
Imaginação criava e ajudava a alimentar os instantes em que nada tínhamos a fazer. Nunca ficávamos sem posto, inovávamos e escolhíamos constantemente como agir ou contemplar o firmamento e as estrelas tão distantes. Sonhávamos ao olhá-los e pensávamos estupidamente como se de verdades absolutas se tratassem. Simplesmente renascia em nós inteligência e ideias evocadas agora e feitos motivos de uma boa conversa. Tardes de Verão inesquecíveis a brincar e imaginar como seria viver num daqueles milhentos planetas cintilantes ou o porquê de não poder ir e chegar bem perto da Lua. Ela encantava-nos, fazia de nós eternas crianças e quando a olho mais e mais uma vez ainda me sinto muito assim: uma eterna menina.
Dias passavam num ápice, juntos íamos ao fim do mundo numa única ocasião. Vagamente me recordo das festas da aldeia. O fogo-de-artifício era o momento que mais ansiávamos . Contávamos todos os minutos até às doze badaladas e por os fim escassos segundos que restavam. Da varanda da casa da nossa avó apreciávamos aquela junção quase perfeita de cores, sons e iluminações. A aldeia resplendecia quando cada um deles explodia, uma circunstância de dia nascia à noite, mais umas dezenas de outras pessoas sentiam não o mesmo mas o quase que nós. Talvez porque já em pequenas tivessem feito o mesmo ou a idade e os tantos anos a apreciar o mesmo fenómeno os tivesse habituado a tal. Quando acabava íamos para dentro, brincávamos um pouco mais e soltávamos mais alegria àquela casa que tanto venerávamos.
Depois apenas acompanhávamos os nossos pais para as nossas dissemelhantes casas e cobríamos as retinas esperando calmamente que o tempo corresse e que novamente se compusesse o dia. E assim como um ciclo sem fim, os dias cessavam e a imaginação não matava a sede de diversão de que usufruíamos. Os animais cantavam connosco e os objectos ganhavam vida à nossa passagem; éramos ressuscitadores de almas mortas e despertadores de vivos espíritos.
Tempos passados contigo, que continuam a passar. Desta vez de uma forma diferente: crescemos, ficámos maiores por dentro e por fora mas aquelas memórias nunca mais serão esquecidas e o rio de imaginação nunca mais será quebrado. De futuro não sei o que nos reserva mas a amizade, uniões de família inquebráveis, são razoes evidentes para continuarmos a sorrir, correr, imaginar e sonhar como sempre fizemos…