Lírico

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Greenland
Toda eu sou alma. Todo eu sou frio, branca como a neve. Toda eu sou sonho, céu, nuvem. Toda eu sou girassol. Toda eu serei tua, se assim o entenderes.
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11 de junho de 2012

Sapiência




“Sabes, por vezes acordo, bem de manhãzinha, olho o relógio e o Sol que me entra pela janela e digo: “Que belo dia!”; ao deitar, penso: “Porque acordei sequer?”

Há dias em que até respirar dói, até o ar corrompe. As nuvens não estão suficientemente negras para que me possa expressar. Queria dormir, dormir, levitar, deixar-me ir num sono profundo, acabadinho de morrer, até ao infinito, acordar lentamente, daqui a milhões de anos, talvez mais. E que chova! Oh, o quanto eu quero que chova! Ninguém notaria o meu rosto já cheio da tristeza do outrora. Não me perguntes por mim, não te sei responder. Não quero estar aqui. E caminharei, voltarei, um dia, apenas talvez.

E me calo e me canso de profundamente tentar explicar o que jamais alguém conseguirá perceber. Sou eu, eu num eu que eu não conheço, disfarçada de ti, fugindo da luz que me tenta aquecer.”

Inácia Amarguras

1 de novembro de 2011

Sinto falta...


Falta-me o ar, faltam-me os sentidos… agora não falo, não calo, nem respiro ouvindo o fenomenal digerir das nuvens. Falta-me a água, faltam-me as gentes… ontem eram apenas partículas, hoje são moléculas enormes formadas pelas palavras inconvenientes de quem vai e não volta.

Vem!
Falta-me a luz, faltam-me os olhares… desapareceu. Onde está todo esse brilho, tão obscuro, tão fascinante, tão teu? Esquecidos são os pensamentos, duplamente esquecidas as promessas. Amanhã nada prometerás, é nada, é tudo, é promessa, é assim: incerto!

Vem, por favor, vem!

Falta-me o ritmo, faltam-me as melodias… é vazio, não te propagas, escusas de tentar, voltar a tentar e tentar outra vez. Não. Liberta-te do que facilmente aprendes, descoordena as orientações que parecem já certas, ultrapassa os limites e agita o chão.

Porque não vens?

Falta-me a terra, faltam-me os costumes… falam, praguejam, os latidos soltam-se em frequências incertas que nem a imaginação calcularia. Não estou no sítio certo, não pertenço aqui. Serei um só, vários aspectos em linha recta, miscelâneas de vozes sem ser nem existir ou um palmo de poeira esvoaçando em pleno Verão?

Não venhas…

Falta-me… o que me faz tanta falta, afinal? E repito, uma, duas dúzias de vezes o mesmo. Pergunta, perguntinha, que fazes tu dentro do meu pensamento? Porque me corrompes as ideias e me distrais do mundo?

Vai!

Afinal, afinal, mesmo no final, nada do que me falta se consegue dispor diante de mim. O que faz falta é o mais relevante, agora. Daqui a milhentas fracções de segundos será uma minúscula recordação. Falta-me o Sol, faltam-me os reflexos, falta-me o “eu”, o “tu”, o “aqueles” e o “nossos”. Faltam-me os verbos, as conjugações: Falta-me a Poesia!

Finalmente!

Nem tudo pode ser de quem um dia espera o mundo. Nem nada é dado a alguém que por tempos infinitos se debruça sobre o mar e lhe pergunta qual será a grande mudança. Nem todos conseguem estar, ser, ficar, permanecer felizes!

Eu sou feliz!


Texto e fotografia: Bárbara

19 de agosto de 2011

Salvação



O vento passa e foge de mim. Não quer vibrar por entre os meus cabelos e sussurrar junto dos meus ouvidos. Não me deixa respirar. O Sol decidiu que não mais me iria iluminar, ia descolorir a cor dos meus olhos e aquecer o mínimo possível, para que eu congelasse. As árvores param de falar entre si, como se eu fosse contar ao mundo os seus segredos. O céu enche-se de nuvens do mais cinzento que consiga existir. O chão treme para me fazer cair, só para que eu perceba o quanto não posso mudar nada. O horizonte escapa-se para o infinito. O que estou aqui a fazer, afinal?

Às vezes uma palavra não chega, um sorriso não faz a diferença por si só, um olhar não diz tudo, a música fica de braços cruzados, indiferente, e os gestos são escassos, irregulares. Já não sei o que fazer nem o que deixar aos outros fazerem por mim. Quero tudo e não quero nada. Não sinto. A Natureza está finalmente a pronunciar-se. Colocou-me de castigo para que eu aprenda que sozinha não farei muito mais que grãos de areia, pequeninos, redondos, propícios a erosão rápida. Ninguém percebe e também ninguém quer saber. É preferível pensar que está tudo bem. É fácil, é lógico. Mas não é o melhor!

O espelho mostra algo sobre mim que não me diz nada, não me obriga a sorrir. Sinceramente, acho que os espelhos hoje em dia só mostram o que não deveriam apresentar nunca. Aliás, os espelhos nunca desvendaram grande coisa sobre as pessoas. Já não sei escrever, já não sei meditar, não penso nem comento aquilo que transmito. Não falo. Por vezes o silêncio dá-me o que mais ninguém consegue. E é isto: o dia encontra o seu fim, a Lua não pronuncia o habitual “olá”, as estrelas foram de férias, assim como toda a gente.

Como será possível que o Tempo passe tão devagar? Eu compreendo o quanto ninguém te quer compreender. És egoísta, assassino, cúmplice das maiores mentiras. É assim que a maioria das pessoas te vê: um monstro solitário e hipócrita. Dos restantes, alguns nem sequer pensam em ti. Estão demasiado ocupados com o seu quotidiano triste e mesquinho. Outros derrotaram-te e fizeram-te pedir perdão aos céus por existires. Serão para sempre imortais. Mas ainda existem mais, muitos mais. Aqueles como eu, que passam ao teu lado, te oferecem um grande sorriso e te pegam pela mão.

Tempo, dá-me um abraço e leva-me contigo pelo Universo! Vamos viajar até ao inicio dos tempos quando tu, Tempo, ainda eras um pequenino e indefeso bichinho ambulante. Agora que temos a mesma idade já podes pronunciar o meu nome. Começaremos a distribuir alegria pelo mundo.

O dinheiro compra muito pouco. E não é ele que vai salvar o mundo. Somos nós, Tempo!

Fotografia e texto: Bárbara