Falta-me o ar, faltam-me os sentidos… agora não falo, não calo, nem respiro ouvindo o fenomenal digerir das nuvens. Falta-me a água, faltam-me as gentes… ontem eram apenas partículas, hoje são moléculas enormes formadas pelas palavras inconvenientes de quem vai e não volta.
Vem!
Falta-me a luz, faltam-me os olhares… desapareceu. Onde está todo esse brilho, tão obscuro, tão fascinante, tão teu? Esquecidos são os pensamentos, duplamente esquecidas as promessas. Amanhã nada prometerás, é nada, é tudo, é promessa, é assim: incerto!
Vem, por favor, vem!
Falta-me o ritmo, faltam-me as melodias… é vazio, não te propagas, escusas de tentar, voltar a tentar e tentar outra vez. Não. Liberta-te do que facilmente aprendes, descoordena as orientações que parecem já certas, ultrapassa os limites e agita o chão.
Porque não vens?
Falta-me a terra, faltam-me os costumes… falam, praguejam, os latidos soltam-se em frequências incertas que nem a imaginação calcularia. Não estou no sítio certo, não pertenço aqui. Serei um só, vários aspectos em linha recta, miscelâneas de vozes sem ser nem existir ou um palmo de poeira esvoaçando em pleno Verão?
Não venhas…
Falta-me… o que me faz tanta falta, afinal? E repito, uma, duas dúzias de vezes o mesmo. Pergunta, perguntinha, que fazes tu dentro do meu pensamento? Porque me corrompes as ideias e me distrais do mundo?
Vai!
Afinal, afinal, mesmo no final, nada do que me falta se consegue dispor diante de mim. O que faz falta é o mais relevante, agora. Daqui a milhentas fracções de segundos será uma minúscula recordação. Falta-me o Sol, faltam-me os reflexos, falta-me o “eu”, o “tu”, o “aqueles” e o “nossos”. Faltam-me os verbos, as conjugações: Falta-me a Poesia!
Finalmente!
Nem tudo pode ser de quem um dia espera o mundo. Nem nada é dado a alguém que por tempos infinitos se debruça sobre o mar e lhe pergunta qual será a grande mudança. Nem todos conseguem estar, ser, ficar, permanecer felizes!
Eu sou feliz!
Texto e fotografia: Bárbara