
Elsa escreve e chora: lacrimeja porque revive os pedaços partidos de um todo que o tempo ainda não levou. Nem irá levar. Tempo será sempre resumido a meros segundos que lentamente passam ofuscados num senão. E enquanto que as horas voarem, os bocados partidos levitarão. As breves escrituras que molda em papel ondulado retratam a manhã que ela nunca esquecerá. Os raios luminosos rasgavam o céu e bombardeavam em paz. O seu cabelo reluzia e em seus olhos se poderia desvendar uma esverdeada fauna. Este seria o dia do todos os dias, o primeiro e derradeiro dia.
A vergonha o invadia mas a vontade o incentivava a fazer o tão esperado pedido. À beira-mar eles conversavam, riam e contavam passados. Até que se olharam… se fixaram nas palavras silenciosas aí espelhadas. Seu coração batia num ritmo embalador com as ondas e o dele… simplesmente deixou de bater. Antes que tivesse feito qualquer pedido, muito antes dos silêncios serem quebrados. Ela o olhou mas em seus olhos já não havia sinal de vida. Entreabertos, eles anunciavam com delicadeza a sua chegada ao reino dos céus.
Agora, Elsa se debruça em pranto e se diminui perante uma dor que o tempo ainda não conseguiu levar. A consciência lhe rói pelas palavras: por aquelas que não foram ditas e aquelas que foram deixadas por dizer. Tenta seguir, descobrir o encanto das manhãs calorosas mas o seu brilho se foi e todos os seus encantos perderam a aparente função. Segura na caneta, concentra-se no papel e chove em sua própria casa: uma chuva de lágrimas inocentes no silêncio da noite. Tudo o tempo traz mas será que tudo ele leva?