
Mas paremos de falar de passado. Agora só o escasso futuro importa. Sara já nem de últimos falava. Receava o dia da partida tanto quanto o dia da própria chegada. Decerto que não iria desaparecer tristemente: possuía um cantinho daquela correria, um pedaço daquele lugar só seu e um maligno gene, uma herança maldita. Entre picos e planícies a sua vida se ia esgotando, em contagem decrescente. Sempre sonhou em dar utilidade às cordas vocais mas sua belíssima voz apenas entoava aquele quarto escuro onde as partículas de oxigénio lhe atribuíam salvas de palmas infinitas. Sonhava esbatida com a noite em que subiria a um palco com os seus longos cabelos apanhados, encaracolados. Na sua meninice, a alegria contrariava tudo o que de mais negativo lhe fosse proposto. Anos passaram e tudo se evaporou: sonhos, vida, alma, coração!
Jamais parou de lutar. O que mais desejava não era ficar ali mas sim ir em paz e na companhia do Senhor! O caminho seria longo, a recompensa seria ainda maior. A dor iria acabar, o sofrimento levemente se desentranharia dela. Uma noite, na escuridão do agora e sempre seu lar, Sara adormeceu para nunca mais acordar. Nem sorriu, nem segundo lhe deram para libertar uma pura lágrima, nem num momento lhe concederam o prazer de voar. E assim foi, caminhou por uma longa planície e desapareceu no reflexo do sol, o reflexo de um diamante…
7 comentários:
Escreves tão bem... *.*
Gostei mesmo (;
(Desculpa a invasão x)
@@
Obrigada (':
Texto bonito:)
Segui e obrigada por seguires também:D
Um belo conto. Cativa até ao fim. Fiquei melancólico e nostálgico, se calhar um pouco triste mesmo. Será que o vivi demais?
Com que então uma "verdade muito suspeita"...XD
Esta' a vista de todos o quanto bem escreves!
Parabéns e continua! Bj*
Obrigada querida:D
Deixei-te um selo no meu blog. vai lá ver.
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