“O fim é desespero, o desespero é
medo, o medo é tudo e o tempo é escasso. Choro pelos cantos que não são mais
que ninhos de deprimência convidativos a desaires humanos. Choro e solto o mais
leve gemido, uma dor miudinha mas constante que não desaparece, não abranda,
sempre incomoda. Estive, estou mas não mais estarei. Tudo é cansaço! Os meus
olhos ardem como bolas de fogo vermelho, do mais incandescente que alguma vez vira. Não sinto as mãos, nem imagino o que me está a fazer escrever como um
louco, um irracional consciente dos actos que não fez, não fiz, nunca faria,
isso.
O
contraste entre espaços vazios se foi, a noção de profundidade é algo passado,
passageiro, deveras momentâneo, os contornos ficaram menos nítidos e neste
momento não consigo nem diferenciar as minhas personalidades. Escrevo,
escreverei. Rabiscarei até que a fome me mate e o ofício me queime as pálpebras;
um dia, terei uma casa feita de papel, de todo aquele que espezinhei e torturei
até à exaustão com a tinta azul e preta, por vezes prateada. Não sinto, não
posso, não mando.
Hoje
quero apenas ir por onde nenhum ser humano desejaria, pisar os caminhos
pestilentos e envolver-me na lama. Conservar-me até que toda a Humanidade
desejasse viver em paz pelas épocas que entretanto colapsaram. Não tenho
qualquer esperança. Nunca haverão almas suficientemente capazes de trazer ao
mundo a resolução de todos os problemas. Isto porque terá de assim ser. Teremos
de nos arruinar, uma, outra, milhentas mil vezes. E não aprenderemos. Continuará
a ser a mesma guerra, os mesmos motivos, a mesma dor, o mesmo ódio e raiva e
vingança e sede de poder.
Não
sei escrever, deixei até de saber contar. Que dia é hoje? Os anos passam, não
dou nem por mim a dormir. Talvez não durma. Talvez não coma. Talvez não exista
sequer. Ninguém me vê. Entretanto, passo na rua, não me olham, apressados. Coitados.
Não tenho pena deles. Escolheram aquilo em que se tornaram ou alguém escolheu
por eles. São pessoas, não merecem nada! Morrerei. E vou com a consciência de
que já nada há para fazer. Parem de nascer.
Foste.
E ninguém me ensinou a recordar-te.
E
por isso me tornei no que agora não vês. Estás longe, distante dos braços e tão
presente em meus pensamentos. Vai embora! Não te quero aqui. Atormentas-me. Deixas-me
louco! Revejo ainda o dia em que partiste sem sequer pronunciar um adeus. É tão
fútil saber que aquilo que deveria ser verdadeiro, puro, completamente espontâneo
é, na verdade, o que nos deseja acabar com o resto dos nossos dias, desaparecer
sem deixar qualquer rasto ou ponta de ingenuidade. A inocência acaba quando se
percebe o quão cruel é um sonho, a facilidade com que se torna no mais subtil
dos pesadelos.
Deixei
de ver. Esmagaste-me os preconceitos, torceste toda a perspetiva criada por mim
durante anos. E quero que morras, tanto como eu morri no dia em que me
abandonaste. Levaste o brilho, a alegria, tudo o que eu tinha. E agora? Tornei-me
num louco. Sim, é isto que a sociedade me chama. E porquê? Porque falo alto e
grito e resmungo e canto e digo o que mais ninguém tem coragem de dizer. Mesquinhos.
Antes
louco que inútil, diria eu.
Antes
assim que simplesmente sim.
Adeus,
Brízida.”
Inocêncio
2 comentários:
QUE LINDO ! é a primeira vez que visitei este blog e fiquei completamente apaixonada, por tudo...
Até fico admirada como é que não existem mais comentários. Muito bom mesmo.
Beijinhos, e continua <3
Muito obrigada, Anónima! :)
Espero que continues a visitar o meu blog! Beijinhos*
Enviar um comentário