Lírico

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Greenland
Toda eu sou alma. Todo eu sou frio, branca como a neve. Toda eu sou sonho, céu, nuvem. Toda eu sou girassol. Toda eu serei tua, se assim o entenderes.

25 de agosto de 2010

Agora sim…


É incrível… o que pedalei só para poder estar aqui…

Agora sim: permaneço vazia nesta silenciosa sinfonia que me aquece o coração. Vim aqui só para que a inspiração se infiltre em mim e me faça escrever. Nada me ocorre e tudo me foge nesta imensidão de beleza e Natureza dispersas e profundamente abençoadas. Sinto o tempo passando, vejo o sol caminhando para o rio como um louco percorrendo a calçada.

Agora sim: desencontrei-me de mim. Daqui, não tenho apenas uma apreciação geral deste mundo: possuo uma ideia puramente emocional sobre o meu próprio universo. Já nada me comunica: a Natureza se fechou perante mim. Oiço vozes bem perto, risos histéricos, mas nada me toca a alma, nada me preenche.

Agora sim: vejo algo que me transcende! Dois seres enamorados, perdidamente apaixonados, contemplando este lugar com uma visão muito diferente da minha. Para eles, isto será o começo de uma nova vida; para mim, isto é uma continuação. Quando os olhei, trocavam palavras, entreolhavam-se tão docemente, uniam as mãos e proferiam elogios a tudo o que os rodeava. Os seus corações batiam, batiam de verdade cada vez que se contemplavam e era capaz de os ouvir a léguas. “Isto é realmente maravilhoso!”. Seu espanto não tardou a aparecer quando me viram escrevinhar neste caderno. Sorriram!

Agora sim: conseguiria passar aqui horas a fio, fixada num só momento, deixando que as memórias ocupem meu estado de espírito. Como posso ser tão fraca perante isto? Este lugar é “realmente maravilhoso”. E vazia, sem inspiração, continuo escrevendo, rabiscando, gastando o precioso fluído que dá uso a este objecto. Só quero fechar os olhos, esquecer tudo o que conheço, viver uma momentânea amnésia e percorrer o meu próprio pensamento.

Devo estar aqui à pouco mais de um dobro de trinta minutos. Cansei-me do meu próprio olhar. Uma abelha voa à minha volta: é destemida, vestida de um amarelo exactamente igual ao meu. Como é possível que esteja tão fixada em mim? Não me larga. Não lhe farei mal. Adoro-a!

Agora sim: vou pegar-me a isto. Conectei-me à Natureza e ela me segredou que amanhã o sol brilhará ainda mais. Acreditei nela, comprová-lo-ei quando este senhor do céu se erguer e se posicionar no seu ponto mais alto. Afinal, não me preenchi: lavei a alma, deixei a brisa entrar, pendurei todos os seus pedaços rasgados, respirei fundo, anunciei tréguas a mim mesma e decidi arrumar-me.

Agora sim, consigo sorrir...
Bárbara

4 de agosto de 2010

Grito!


Tento esquecer a melancolia dos dias, entregar ao rumo do relógio os pequenos pedaços de tempo e contrariar as regras impostas por um espaço onde não quero permanecer. O relógio movimenta-se muito devagar e depressa se cansa da mesma vida rotineira. Um tic-tac me faz parar de existir fora de mim: transporta-me até ao mais profundo pedaço de ser que contenho e reparte-se a esperança pois esta é já uma antiga e sempre velha companheira da minha alma.

Tento esquecer as noites, subtrair as estrelas e alargar o espaço lunar. Quero gritar, pausar a existência e trocar de mundo, mudar-me para um local cheio de paz, onde seja a harmonia a rainha. Até me confrontar com tudo, nada tinha a temer. Agora, jamais terei. Aumento a luminosidade para que se torne mais familiar, menos observável para qualquer outro ser humano.

As cordas se embalam em ritmos desatinantes, melodiosamente transfigurados em tons mais graves e fortes. As conexões entre a máquina pensante e o corpo que me sustenta começam a falhar, sumir-se por entre as brumas da memória que em dia nenhum se evaporará.

Tenho medo de sonhar, arrependo-me profundamente dos desejos que alguma vez pronunciei. Preciso urgentemente de ti; vem e dá-me só um olhar teu, só um simples pedaço da tua voz para abafar o meu grito alarmante e que desesperadamente pede ajuda. Não tenho motivos, não possuo razão alguma. Apenas reflicto sobre todos os acontecimentos passados, os que ainda hoje se apresentam perante mim e me acenam num meticuloso pedido de desculpas.

Não quero partir para dentro de mim mesma pois será ainda pior recordar. Não percebo o fundamento destes lacrimejos, desta abundância de sensações que me envolve mas tenho uma corrente ondulatória contra quem eu lutava todos os dias. Não pedia mais nada além de ti: vem comigo e pára o tempo para que ninguém consiga permanecer neste espaço, para que eu seja capaz de libertar toda esta negatividade e pise o espaço lunar só mais uma vez…

Bárbara Patrício