Lírico

A minha foto
Greenland
Toda eu sou alma. Todo eu sou frio, branca como a neve. Toda eu sou sonho, céu, nuvem. Toda eu sou girassol. Toda eu serei tua, se assim o entenderes.

4 de dezembro de 2011

Esquivo


Não posso ficar! O frio congela-me as mãos, vai esfriando cada pedaço de mim que ainda detém algo que palpite, mil corações em uma preciosidade só. Desconheço o facto de estar aqui, noite dentro, especado diante de ti! Lua, fala comigo, escuta as minhas preces já que o Sol há muito que as deixou perdidas no rio do tempo em que me encontro constantemente. Tudo o que quero é dirigir-me pelo próprio pé a uma casa que um dia foi minha, tua, do nosso mais real e imprescindível amor; desejo o quente aperto de um lar, alguém que me olhe amavelmente, sem o desprezo de todos os dias, como se a tristeza e decadência do mundo dependessem exclusivamente de uma coisa tão nojenta, vazia e pestilenta igual a mim.

Moro entre ruas e becos, becos com ruas, ruas sem becos e saídas sem fim de início bem demarcado, que me levam a caminhos sem rumo, com destino às três impossibilidades mor, é sangue, é dor, é saudade. Sou morador do mundo inteiro! O meu tecto muda de cor mesmo sem eu o pintar ou esculpir belas formas que me fazem sonhar. Não tenho lâmpadas, as estrelas encarregam-se de me iluminar quando a Lua executa o seu tão curto descanso mensal. É a terra que me sustenta o corpo, sujo, cheio de frio, um autêntico cubinho de gelo que vagueia sem descongelar, desagregando-se de muitas outras formas. As estações são as únicas que me cumprimentam: o Verão, com sufocantes dissertações sobre o porquê de não ir à praia ou à piscina como toda a gente; a Primavera, com leves e frescas correntes de brisa que me fazem meditar milhentas vezes sobre a vida que levo; o Outono esbofeteia-me com duas toneladas de folhas encantadoras que me tocam, limpando o mais profundo pecado que em mim se aloje; o Inverno, oh… é ele quem me massacra mais, quem me faz falar com a Morte, dando inesperadas quedas, me questiona acerca da árvore de Natal, das prendas, do consumismo, da passagem para um novo ano. Mal ele sabe que o tempo deixou de existir, para mim, à muito, muito tempo!

E assim, sem cessar, sem que a voz fuja descoordenada e perdida em quelhos obscuros, eu pedia a todos os que por ali passavam por um pouco de pão, uns míseros trocos para gastar no supermercado mais barato e reles daquela cidade. Uns respondiam-me com o menosprezo e desdém de todos os santos dias; outros, mostravam a indiferença que lhes estampava a cara de uma extremidade a outra; mas haviam os anjos, aqueles que me davam um sorriso, oh, um sorriso… aquela menina teria a idade da minha filha se hoje se encontrasse comigo, olhos cintilantes, face da seda mais angelical e pura, cabelos demorados, polidos, estremecendo como pasto em campos de seara, me ofereceu o que eu mais desejava: uma visão actual de como seria a minha pequena menina agora, aquela que eu carreguei nos braços durante tanto tempo, que era exactamente a cara de sua mãe, grande mulher, grande pessoa!

Pelo menos o Inverno tem uma ou duas coisas boas: a neve! Ela espalha a pureza pelo mundo, cobre tudo aquilo que não deve ser entendido, assim como agasalhou o cenário mais trágico e impiedoso, algo que nem um milhão de lágrimas varreria. Tudo começa como sendo exemplar, mas até a perfeição é apenas um ideal, e a sujidade espalha-se perfeitamente em cenários claros, a pureza esvai-se… e quando a noite chega, maldita noite, que fiz eu?, coitada, será este, será oeste, onde está o meu norte? É quando o norte e o sul se juntam, é quando o alfa e o ómega se esvaem, a terra e o céu se envolvem, é aqui que tudo se auto-destrói, é aqui que o sonho se forma, é aqui que se observa o poder do Universo sobre os demais.

Somos a partilha, dividimo-nos com todos aqueles que são o que são para nós. Afinal, não somos a criatura que pensamos ser: estamos inevitavelmente constituídos por peças infinitas de um puzzle de outros seres, aqueles que nos fazem sorrir, aqueles que nos magoam e nos largam a mão, os que nos prendem sem deixar cair o que de mais precioso possuímos, os que nos amam, olham os olhos e vêm que somos um dos viventes mais maravilhosos do seu reino. E é assim que as forças vêm não percebo de onde, fazem-nos lutar por não sei o quê, obrigam-nos a conquistar não entendo como e desaparecem não atingindo o verdadeiro porquê. A vida continua, existimos num só, sustentaremos muitos mais, eclodiremos o grande pedaço de existência coberto de pó.

De que nos vale um corpo se a Alma se encontra longe, encarcerada, enjaulada no mais maravilhoso ser que jamais conhecemos igual?

[É de algo genuíno, puro e cristalino,
é de algo que não se vê,
só se sente,
é por Alma que a Humanidade chora!]

Bárbara

1 de novembro de 2011

Sinto falta...


Falta-me o ar, faltam-me os sentidos… agora não falo, não calo, nem respiro ouvindo o fenomenal digerir das nuvens. Falta-me a água, faltam-me as gentes… ontem eram apenas partículas, hoje são moléculas enormes formadas pelas palavras inconvenientes de quem vai e não volta.

Vem!
Falta-me a luz, faltam-me os olhares… desapareceu. Onde está todo esse brilho, tão obscuro, tão fascinante, tão teu? Esquecidos são os pensamentos, duplamente esquecidas as promessas. Amanhã nada prometerás, é nada, é tudo, é promessa, é assim: incerto!

Vem, por favor, vem!

Falta-me o ritmo, faltam-me as melodias… é vazio, não te propagas, escusas de tentar, voltar a tentar e tentar outra vez. Não. Liberta-te do que facilmente aprendes, descoordena as orientações que parecem já certas, ultrapassa os limites e agita o chão.

Porque não vens?

Falta-me a terra, faltam-me os costumes… falam, praguejam, os latidos soltam-se em frequências incertas que nem a imaginação calcularia. Não estou no sítio certo, não pertenço aqui. Serei um só, vários aspectos em linha recta, miscelâneas de vozes sem ser nem existir ou um palmo de poeira esvoaçando em pleno Verão?

Não venhas…

Falta-me… o que me faz tanta falta, afinal? E repito, uma, duas dúzias de vezes o mesmo. Pergunta, perguntinha, que fazes tu dentro do meu pensamento? Porque me corrompes as ideias e me distrais do mundo?

Vai!

Afinal, afinal, mesmo no final, nada do que me falta se consegue dispor diante de mim. O que faz falta é o mais relevante, agora. Daqui a milhentas fracções de segundos será uma minúscula recordação. Falta-me o Sol, faltam-me os reflexos, falta-me o “eu”, o “tu”, o “aqueles” e o “nossos”. Faltam-me os verbos, as conjugações: Falta-me a Poesia!

Finalmente!

Nem tudo pode ser de quem um dia espera o mundo. Nem nada é dado a alguém que por tempos infinitos se debruça sobre o mar e lhe pergunta qual será a grande mudança. Nem todos conseguem estar, ser, ficar, permanecer felizes!

Eu sou feliz!


Texto e fotografia: Bárbara

23 de outubro de 2011

Bocados do nada que há em mim


Corro,
Saltito entre ideias,
Busco o que de melhor há em mim.
Não te encontro; sonolenta, uma voz me chama
E caminha lado a lado com meu e apenas meu pensamento.
Sofro por não chover e transmito sensações;
Suspiro a brisa que me apresenta
Mundos novos e ideais
Defuntos.
O caos…

Será?
Tudo evaporou,
Se infiltrou em terra
Firme como rochedos perdidos.
Montanhas desaparecem a cada milhão,
A cada lento movimento teu. Desprendo-me
Rapidamente do que alguma vez cheguei a conhecer.
Quero esgotar as palavras, os termos
Que alguma vez aprendi.
Desaprender!
Sumir-me,
Voar…

Vê,
Sente,
Observa,
Abre a mente,
Encontra-te na imensidão.
Repara na transformação que causaste em mim.
Revolto-me? À tua espera, outra vez, deixo-me ficar quieta,
Imóvel, desperta.
E quando nada me ocorrer, voltarei a mim;
Conquistarei os rios e lagos: o Universo!
Sentar-me-ei,
Serei eu mesma noutro alguém:
Um bocado de nada…


Texto e fotografia: Bárbara

19 de agosto de 2011

Salvação



O vento passa e foge de mim. Não quer vibrar por entre os meus cabelos e sussurrar junto dos meus ouvidos. Não me deixa respirar. O Sol decidiu que não mais me iria iluminar, ia descolorir a cor dos meus olhos e aquecer o mínimo possível, para que eu congelasse. As árvores param de falar entre si, como se eu fosse contar ao mundo os seus segredos. O céu enche-se de nuvens do mais cinzento que consiga existir. O chão treme para me fazer cair, só para que eu perceba o quanto não posso mudar nada. O horizonte escapa-se para o infinito. O que estou aqui a fazer, afinal?

Às vezes uma palavra não chega, um sorriso não faz a diferença por si só, um olhar não diz tudo, a música fica de braços cruzados, indiferente, e os gestos são escassos, irregulares. Já não sei o que fazer nem o que deixar aos outros fazerem por mim. Quero tudo e não quero nada. Não sinto. A Natureza está finalmente a pronunciar-se. Colocou-me de castigo para que eu aprenda que sozinha não farei muito mais que grãos de areia, pequeninos, redondos, propícios a erosão rápida. Ninguém percebe e também ninguém quer saber. É preferível pensar que está tudo bem. É fácil, é lógico. Mas não é o melhor!

O espelho mostra algo sobre mim que não me diz nada, não me obriga a sorrir. Sinceramente, acho que os espelhos hoje em dia só mostram o que não deveriam apresentar nunca. Aliás, os espelhos nunca desvendaram grande coisa sobre as pessoas. Já não sei escrever, já não sei meditar, não penso nem comento aquilo que transmito. Não falo. Por vezes o silêncio dá-me o que mais ninguém consegue. E é isto: o dia encontra o seu fim, a Lua não pronuncia o habitual “olá”, as estrelas foram de férias, assim como toda a gente.

Como será possível que o Tempo passe tão devagar? Eu compreendo o quanto ninguém te quer compreender. És egoísta, assassino, cúmplice das maiores mentiras. É assim que a maioria das pessoas te vê: um monstro solitário e hipócrita. Dos restantes, alguns nem sequer pensam em ti. Estão demasiado ocupados com o seu quotidiano triste e mesquinho. Outros derrotaram-te e fizeram-te pedir perdão aos céus por existires. Serão para sempre imortais. Mas ainda existem mais, muitos mais. Aqueles como eu, que passam ao teu lado, te oferecem um grande sorriso e te pegam pela mão.

Tempo, dá-me um abraço e leva-me contigo pelo Universo! Vamos viajar até ao inicio dos tempos quando tu, Tempo, ainda eras um pequenino e indefeso bichinho ambulante. Agora que temos a mesma idade já podes pronunciar o meu nome. Começaremos a distribuir alegria pelo mundo.

O dinheiro compra muito pouco. E não é ele que vai salvar o mundo. Somos nós, Tempo!

Fotografia e texto: Bárbara

15 de agosto de 2011

Libertação



Hoje reparei como tu eras belo. És apenas uma miragem, à distância de uma imagem que percorre minha mente, tridimensionalmente. Corro para mim, bem dentro de tudo o que é profundo, interiormente. Passivamente me afirmo, reafirmo, contradigo, sustento os membros e gesticulo. São tantos, tão diferentes. No fundo, nenhum quer o mesmo que outrora já quis. Passam despreocupados, rotineiros, infames e passageiros (do nada?). E eu, parada no meio de confusões eternas, especada à espera de ninguém, trancada em mim, observo-os, imóvel, eficazmente pensando numa solução para este circular miudinho.

Sugo o espaço, desatino com o tempo, apressando-o, dando-lhe mais da rapidez que o desanima e avoluma sem quebrar. À noite penso. Mais que no escuro da noite, mais que no vento que me congela a face, muito mais que nas estrelas que desaparecem do céu, debato no indistinto clima da minha alma, da minha gente. Agora todos eles são constituintes da mesma luz de um canal de fibra óptica. Dentro é luminoso, cintilante, poderosamente conectado. Mas continuamos presos: encurralados por aquele cabo de um plástico impermeável, duro, negro, impedindo a nossa expansão, a passagem para outras formas de estar, de viver, de habitar e cogitar.

Talvez sejamos isso, talvez nem sequer passemos disso mesmo: uma mistura de luz de oiro que reluz aqui e ali, coberta por um negro céu que nos impede de libertar o verdadeiro esplendor que enriquecerá finalmente a Humanidade: o brilho imutável e transcendente dos nossos olhares. Nós criámos as coisas, adoptámo-las como indispensáveis à vida. Elas comandam-nos e continuamos a ser governados por seres inanimados que deveriam ser colocados em segundo plano! Esquecemos o significado de pessoa.

E assim marchamos sobre esta imitação de claridade que perdura e tende a não cessar, cobertos por escuridão, fingimento, hipocrisia. Largámos o que de mais puro e indistinguível foi colocado neste universo: a Natureza. Fazemos parte dela, harmoniosamente somos criados por ela. É uma divindade, possui a interminável poção da eternidade e apodera-se de toda a gigantesca força do mundo. Bastavam uns milhões de contemplares para romper as correntes e sermos espontâneos, livres, naturais, exactamente como antes, quando nada possuíamos.

Hoje reparei como tu eras belo. Porque não há nada mais belo que o brilho dos nossos olhares.

Fotografia e texto: Bárbara

2 de junho de 2011

Miles away



Oh, esconde-te! Eles querem prender-te, eles querem que sejas o tesouro menos valioso do mundo! Morre! Sai daqui e deixa este lugar por tempo indefinido. Para sempre? Não. O sempre não existe. Somos limitados. Não podemos pensar em “eternamentes”.
Leonardo magicava sobre isto: pensava sobre o quanto a vida lhe pesava nos ombros. É triste! Nunca imaginei alguém tão descabido de motivação ou razão de ser. Oh, o nunca também não existe… Não caminhes por esse lado: vem antes para junto de mim! Não te dirijas a essa rua, vem, oh vem… deixa-me olhar-te nos olhos, condensar-te essa tristeza num leve sopro e manda-la para bem longe de ti, para que não te atormente mais. Oh vem, quero que venhas, vindo despertando, ficando morrendo de leve nos meus braços… mostrar-te-ei a felicidade que corre em todas as veias do meu corpo quando estás por perto. Oh, olha o relógio, ele não pára, tu te demoras, eu não aguento mais, sai daqui, fá-lo, rapidamente, sem pensar, simplesmente faz o que deves fazer.
A consciência pode ser a raiz de todos os males. Mas como todos os males podem ser cortados de raiz, também Leonardo deveria arrancar a sua insistente percepção da vida e libertá-la no rio que agora vê correr mesmo por baixo dos seus olhos. A altitude é grande, a queda será ainda maior. Imagina o seu corpo em pleno voo, transformado em pássaro bravio e tão selvagem como qualquer um outro que nasce como tal. Sempre que um pé se atrevia à menor movimentação na direcção do fundo, o pensamento reagia, num acto involuntário de epilepsia, recuando, formando a esfera protectora da sanidade que não faltava mas se encontrava em decréscimo.
As últimas semanas passadas no quarto não ajudaram em qualquer uma das decisões que podiam ter sido tomadas. Clarissa era especial de mais para que algum dos seres que conhecia a conseguissem compreender. No fundo, ela apenas precisava de ajudar alguém, de fazer transparecer a ideia de que era útil, de que afinal tinha nascido, vivido e sido importante para o mais insignificante átomo neste universo de imensos lugares mas nenhum refugio. Oh, como és fútil e desvantajosa, olha como o Sol não brilha quando acordas, as nuvens se escondem quando passas pelas ruas e abraças o céu… oh, afinal és só tu, pensava que era outro alguém que quisesse falar comigo, és só tu Clarissa, e eu sou a tua consciência e não permitirei, jamais, que te entendas contigo própria, isso é missão de alguém sublime, não tu, tu não, não chores Clarissa, não chores, não vale a pena, o dia não nasce para ti e a noite não é feita para que te deites e descanses as ideias que não surgiram; não sonhes Clarissa, não sonhes, não vale a pena, sonhar não é para ti, é para alguém capaz de fazer sorrir uma flor, é para alguém que não tu!
Leonardo e Clarissa não se conheciam, nem sabiam que alguém que os complementasse tanto pudesse existir. Ela decidiu que deveria sair, guardar um pouco de ar fresco caso outro período de hibernação lhe ocorresse. Ele especava naquela imensidão de vazio, naquele sonho de voar e ficar suspenso pelos próprios pés, de se transformar em mar, um dia que o rio o levasse até lá, fundir-se com o sal, fossilizar, e depois de milhares e milhares de anos em condições óptimas de fossilização, alguém encontrar essa mesma pedra, dizendo, inconscientemente, sem sentir nada: “Aqui jaz Leonardo Lourenço, filho do sonho e da vontade de se deixar ir, condenado ao terrível desespero da sua consciência. Aqui se encontra, aqui permanecerá!”.
A rua era larga. Curioso: não passara ninguém. Apenas Clarissa atravessava o passeio olhando para o rio que passava lá em baixo, violento. Era Outono, tinha chovido a semana toda, havia água em abundância. Mas hoje não, hoje estava Sol, hoje as nuvens deram ar da sua graça e mostraram se receptivas aos pedidos daquela pobre rapariga. Num instante, quase tão instantâneo como um bater de asas de uma libelinha, quase tão espontâneo como o começo de um amor, Clarissa viu Leonardo, diante de si, olhando o fundo. Oh, como ele é belo, como te deixou sem ideias a alma, como te tranquilizou sem nada ter ocorrido, oh, olha Clarissa, como ele é a melhor pessoa que jamais irás conhecer, nunca ninguém te irá fazer tão feliz, mais nenhum desgraçado te irá compreender. Oh, tudo tem um preço Clarissa e a vida está a pagar a sua divida perante ti.
Aproximou-se, sem jeito, sem saber o que proferir quando aqueles olhos azuis a examinassem. Finalmente. O que um simples toque pode causar. Os olhos azuis não examinaram: amaram o cabelo claro e cintilante à luz daqueles raios, a face branca e gelada, o nariz esguio e deslumbrante, os lábios carnudos e rosados de Clarissa. E olharam-se durante tanto tempo que quase o próprio tempo deixou de ter sentido. Por fim, sorriram ambos, parecia acordado entre os dois. Voltaram a suas vidas rotineiras e sem jeito. Sem jeito? Não. Nunca mais foram os mesmos. Leonardo deixou de querer voar. A terra tinha ganho cor e afinal, era bem melhor permanecer durante mais algum tempo, enquanto a morte não se encarregue de o levar. Clarissa sonhou, sonhou todas as noites em tons de azul. Oh, como a vida pode mudar, oh, como o mar é lindo, como o céu é deslumbrante, como os olhos daquele rapaz eram sensacionais.
Repetidamente e quando o coração permitia, voltavam ao lugar onde se tinha dado o despertar de duas vidas, o local do segundo nascimento. Um dia, irão acertar como que por magia os relógios e encontrar-se, finalmente, no mesmo local onde antes nem a magia conseguiria fazer o milagre que aconteceu.
[So far away…]
Texto e Fotografia: Bárbara


14 de maio de 2011

Minusculidades


Os dias desaparecem a correr e as noites converteram-se, de repente, em vagarosas e frias temporadas. Recosto-me no sofá, abrigada por um delicado cobertor de algodão e faço por sentir a agitação nocturna, mesmo com o ensurdecedor banzé das linguagens que solenemente se ausentam da interactiva caixinha preta e se conduzem até mim.

Intervalo.

As publicidades assaltam as minhas sensações e conquistam aquele espaço desguarnecido entre os programas (realmente?) atraentes. É deveras melancólico ter de aguardar tanto tempo até continuar a perseguir com os olhos e os ouvidos uma narração que podia muito bem ser a minha.

Que caricato!

A caneta desacertou em pleno acto de escrita! Não vou cessar: perdurarei, escrevendo, branco sobre branco, deixando a marca dos vocábulos que neste instante me sucedem, como uma mensagem sigilosa e confidencial.

O silêncio invadiu-me o quarto e o sono está prestes a invadir-me a mim. Toda a casa dormita. As cortinas examinam-me, altivas e imponentes, perguntando-se: “Que estará ela a confeccionar?”
Pois bem, minhas caras cortinas, aqui entre nós, vos respondo: estou a fazer algo que à partida é banal, secundário mas que, mesmo assim, é importante que seja concluído! É nas mais diminutas coisas que se descobre a pura felicidade, a verdadeira sensação de independência e espírito crítico.

Agora, se me permitem, amigáveis cortinas, atrevo-me a mais vos dizer: vocês são apenas cortinas, longas e finas cortinas, mas sem a vossa presença, este quarto seria mais desabitado e oco, menos acolhedor e afável, menos meu. O mesmo encaixa para os móveis, a roupa da cama, os candeeiros e a decoração.

Aprender a administrar valor às minguadas coisas que possuímos é a chave para sermos capazes de atribuir uma interpretação à nossa existência, ao nosso caminhar e à longa jornada que todos os dias teimamos em não largar.

[Pois foram as minusculidades que amamentaram as maiores grandezas do mundo!]

22 de abril de 2011

As minhas 100 filosofias de vida!


1.      Parar de sonhar é parar de viver.
2.      Diz sempre aquilo que pensas, sem preconceitos.
3.      Não tenhas medo de ti próprio.
4.      Aceita as consequências dos teus actos.
5.      Torna-te naquilo que desejas ser.
6.      Ouve o que os outros têm para te transmitir.
7.      Não ignores ninguém.
8.      Ao acordares, deixa o Sol penetrar pela janela e sorri.
9.      Não te isoles: sentires-te sozinho é a pior sensação do mundo.
10.  Olha todos os dias para o céu.
11.  Agradece por estares vivo, agradece todas as coisas boas que tens.
12.  Não sejas orgulhoso, vingativo e invejoso.
13.  Não queiras obter mais do que aquilo que fazes para o conseguir.
14.  Porquê ser um parasita se podes alcançar as coisas por ti próprio?
15.  Se não trabalhares, nada irás ter.
16.  Quando um vazio estranho te invadir e tu não souberes de onde ele vem, afasta-o. Como? Pensa naquilo que mais gostas de fazer!
17.  Sê sempre correcto de acordo com as situações.
18.  Não sejas demasiadamente impulsivo.
19.  Pára, escuta e olha.
20.  Ter calma é o primeiro passo para agir correctamente.
21.  Não odeies ninguém: isso só te faz mal a ti!
22.  Gasta todo o teu tempo! Mas lembra-te: deixa o que é mais importante para ti consumi-lo em maior quantidade.
23.  Aprende a partilhar o que tens.
24.  Nunca digas nunca. Esse nunca pode voltar a bater-te à porta.
25.  Por muito fácil que seja dizer “um dia…”, não o profiras: esse dia pode não chegar e ser tarde demais!
26.  O amor é o mais belo sentimento do mundo. Não achas?
27.  Não tenhas medo de gostar de alguém e de alguém gostar de ti: a maior maravilha do mundo veio ter contigo!
28.  Sê agradável e bem-educado com todos, mesmo aqueles que não conheces.
29.  Evita pensamentos obscuros: só te irão poluir a alma!
30.  A felicidade não é algo impossível: basta deixá-la entrar na tua vida.
31.  O Universo é infinito e o seu poder é infindável.
32.  Se pensares positivo vais atrair coisas positivas.
33.  Se pensares negativo serás o íman da negatividade.
34.  A vida é curta e o tempo é escasso: aproveita-o ao máximo!
35.  Não desesperes: há sempre uma solução e um caminho a seguir!
36.  Não custa nada dizer um “obrigado”.
37.  Fica sempre bem pedir desculpa.
38.  Atenta na tua consciência: ela consegue ser bastante insistente! Desprezá-la é o primeiro passo para sentir remorsos.
39.  Fundamentalmente, ouve-te a ti próprio.
40.  Não baixes a cabeça.
41.  Olhar para trás? O caminho é sempre em frente!
42.  Somos obra do acaso. Por isso, nada melhor que saber aproveitá-lo!
43.  A sorte não se ganha ou perde: a sorte constrói-se!
44.  Há coisas que simplesmente não têm explicação.
45.  Vale a pena perder tempo com coisas insignificantes? Vale sempre a pena.
46.  Quem não arrisca, não petisca. Mas não arrisques demais.
47.  Um sorriso não demonstra sempre simpatia e um “não” não evidencia sempre mau carácter.
48.  Não julgues o interior a partir da exterioridade.
49.  É nas pequenas coisas que se vê de que material uma pessoa é feita.
50.  O arco-íris assemelha-se a nós: temos poucas oportunidades para fazer algo realmente bom. Assim, quando as condições estiverem reunidas, transformem-se.
51.  Põe sempre tudo aquilo que és naquilo que fazes.
52.  Nem sempre as primeiras impressões ditam um futuro sentimento, embora sejam bastante influenciadoras.
53.  A amizade é ser eu e ser tu: é sermos nós num mundo de sonho.
54.  O dinheiro não compra as coisas mais importantes que existem no mundo.
55.  Tudo na vida acontece por uma razão: agora podes não perceber mas um dia vais entender a razão.
56.  Sê céptico: não acredites em tudo o que te dizem.
57.  Diverte-te o mais que puderes sem deixares de cumprir as tuas obrigações.
58.  Reclama pelos teus direitos e exerce os teus deveres.
59.  “Bom cristão e honesto cidadão.”
60.  Ama quem te ama.
61.  As pessoas só têm a importância que nós lhes damos.
62.  Cria a paz, evita as guerras.
63.  A indiferença é o pior castigo que alguém te pode atribuir.
64.  Os olhos são a chave: são eles que transmitem os mais sublimes momentos.
65.  Luta por aquilo que queres e nunca desistas.
66.  A Natureza é tudo: cuida dela, de ti, de mim, de nós!
67.  Não desprezes quem te estende a mão porque um dia podes ser tu a precisar.
68.  Ser demasiado sério nem sempre ajuda. Mostra a criança que há em ti pelo menos 5 minutos por dia.
69.  Flutuar é como estabelecer a barreira entre o mar e o ar: é voar sem ter céu.
70.  De nada vale a maquilhagem e as roupas bonitas se por dentro não possuis nada de bom.
71.  A música é uma das bases para a perfeita harmonia da alma.
72.  Sê honesto.
73.  O relógio serve apenas para te orientares. Não lhe dês muita atenção.
74.  A rotina é cansativa. Inova. Faz coisas novas. Experimenta novas sensações.
75.  Surpreende as pessoas de forma positiva.
76.  Não deixes para mais logo aquilo que podes fazer neste preciso momento.
77.  Tem paciência.
78.  Um dia terás tudo o que mereces.
79.  Mentir é feio.
80.  É preferível uma dura verdade que uma bela mentira.
81.  Um bom abraço é o melhor conforto do mundo.
82.  Não digas nada de cabeça quente. Podes arrepender-te seriamente.
83.  Desarruma mas volta a arrumar tudo no seu lugar.
84.  Organiza-te por dentro.
85.  Sabe sempre o que queres.
86.  Não sejas fútil.
87.  Não gastes dinheiro em coisas supérfluas.
88.  Não percas a chave de casa mas sobretudo, não percas a chave para seres como és.
89.  Brincar um pouco sabe sempre bem.
90.  Não te faças mais do que aquilo que és.
91.  Olha: está a chover! Que estás a fazer dentro de casa?
92.  Se o dia de hoje não correu bem, amanhã será melhor.
93.  Deixa-te vaguear por um bocado.
94.  Falar sozinha não é sinónimo de estar doida. É indispensável.
95.  Não faças uma tempestade com uma gota de água.
96.  Aproveita todos os momentos ao máximo.
97.  Explora, descobre, informa-te, investiga com afinco.
98.  Não sejas demasiado racional: a emoção faz sempre falta!
99.  Conseguir perdoar o outro é conseguir dar a volta ao mundo.
100.   Deixo ao teu critério! =)
Chego ao final e penso: afinal são muito mais que 100!
Fotografia e texto: Bárbara Patrício

9 de abril de 2011

Poderia ser?



Poderia ser Vénus e Afrodite e encantar os corações do mundo; poderia ser Shakespeare e escrever belos poemas de amor; poderia ser John Lennon e fazer boa música quando bem me apetecesse!
Poderia ser Newton ou Einstein e possuir inteligência acima da média de qualquer outro ser humano considerado normal; poderia ser Madre Teresa de Calcutá e ajudar a mudar a humanidade; poderia ser Sharbat e congelar para sempre o mais belo dos olhares na memória do Homem!
Poderia ser Lionel Messi e jogar futebol humildemente como ninguém ou então Usain Bolt e correr para além do infinito a velocidades estonteantes; poderia ser Gandhi e lutar por uma causa na qual acredito como na própria vida!
Poderia ser Neil Armstrong e imortalizar-me, sendo o primeiro humano a pisar a Lua; poderia ser Obama e marcar a diferença apesar de todos os preconceitos; poderia ser Kant e pensar acerca de tudo o que me fizesse perguntar o porquê!
Poderia ser tudo isto…
Mas prefiro ser apenas alguém que tentará realizar um pouco daquilo que todos eles consumaram!
[Graças à imaginação conseguiremos buscar mais sede de conhecimento e saber! Porque sonhar não mata, sonhar não empobrece, sonhar torna-nos pessoas!]
Fotografia e texto: Bárbara

23 de janeiro de 2011

Replay


Começou. Entrei no reino da música. Danço com leves e majestosos passos. Algo me fez parar no tempo, na melodia… apareceste!
Pegaste em minha mão, levaste-me para além de tudo o que já conheci. Transportaste o teu mundo para o meu: o reino contido nos teus olhos combina perfeitamente com o meu, cheio de ritmo, sonho, paz. Fazes-me rodopiar, devagar. Todos os meus movimentos são guiados por ti e a minha silhueta é comandada pelas tuas mãos suaves e quentes. Projectas o teu futuro em mim cada vez que me olhas. Deixas-me num estado de espírito inseguro e inquietamente sublime. Tremo só de contemplar o modo como sorris, como vais proferindo os imensos vocábulos que expulsas do teu maravilhoso interior.
E novamente me rodopias, desta vez para bem junto de ti. Contemplamo-nos por longos, doces, eternos e apaixonantes instantes. Inocentemente, como que por curiosidade, cheia de receio, toco o teu rosto e decoro cada traço, cada pequeno pormenor único que me faz esboçar um sorriso permanente e fixo, me faz levitar e continuar a sentir a pele do teu rosto nas minhas mãos. És como o início de uma linha perfeita que nada restringe, que a nada cria barreiras ou obstáculos.
A minha alma ganhou vida no momento em que apareceste, simples, encantador. Continuas fazendo de mim a mais estupenda bailarina de sempre. Aos teus gestos me deixo guiar e vivemos a música como a própria vida. Levas-me para junto de ti e abraças-me, entrando em meu pensamento, em meus sentimentos, conseguindo desabar toda a dor, angústia e tédio. Pedes-me para dançar contigo outra e outra vez e o ciclo não cessa: somos seres rodopiantes sendo felizes num mundo conjugado e construído por ambos.
E eu continuo feliz, estonteantemente sorridente mas… algo me fez parar no tempo, na melodia… desapareceste!
[o melhor de voltar ao mundo normal é ter a perfeita consciência que tenho outro, imaginário, e que posso ir lá, sempre que quiser.]
Fotografia e texto: Bárbara

1 de janeiro de 2011

Desejos para "Hoje"


Hoje!

Hoje quero viver, quero ver o mundo como um todo, como uma bela conjugação de partes que se desdobram em gritos de alegria e esperança. Quero que por um minuto o mundo pare e pense em conjunto; quero que nos olhemos nos olhos, que percebamos o quão fantástico é poder ver o que somos por dentro, sem nos cingirmos à aparência e a roupas bonitas. Quero sentir a fúria do mar embatendo nas rochas, a brisa fresca da praia, o cheiro a sal que desperta uma sensação de fome indescritível. Quero que o Sol acorde todas as manhãs e me cumprimente, por mais frio que o ambiente esteja; quero que chova e se forme um arco-íris gigante bem por cima da minha cabeça; quero ver gente, muita gente: gente a sorrir, gente a brincar, gente preta, gente branca, gente loira e com olhos verdes, gente morena, crianças, adultos, idosos, recém-nascidos, loucos, lúcidos, bêbedos, agitados, calmos, extrovertidos, faladores, calados, estudiosos, “os que não querem saber de nada”, irritados, solitários, curiosos, simples, chatos, exigentes, divertidos, inteligentes, amorosos, rebeldes, apaixonados, músicos, artistas, trabalhadores, interessados, trapalhões!

Hoje quero virar o mundo do avesso e gritar à Humanidade que não estamos perdidos, que há uma solução! Ainda podemos ser mais, melhor. Quero poder conhecer tudo e todos, percorrer todas as estradas, conhecer todos os caminhos e atalhos, perceber como funciona a dinâmica da vida, saber tudo o que há para saber, descobrir algo que ainda não foi descoberto… quero chegar ao fim e dizer bem alto que ainda nada sei. Quero captar cada momento, cada pedacinho de passado: quero agarrá-lo nas minhas mãos e nunca mais o perder, levá-lo comigo quando um dia partir. Quero ter motivos para sorrir e quero sorrir mesmo sem motivos, só pelo simples gosto de me sentir feliz comigo mesma, exatamente como sou. Quero o que tu também queres; quero o céu a expandir-se e a parecer bem mais gigantesco.

Hoje quero que apareçam na minha vida e a virem ao contrário, que lhe ponham mais cor, mais luz, mais palavras, mais inspiração, mais música, mais respostas e menos problemas, discussões, zangas, distúrbios, perguntas. Quero ver a Natureza a crescer e a multiplicar-se. Quero todas as pessoas que gosto junto de mim e que tudo se torne perfeito na vida delas. Quero aprender a resolver os meus próprios problemas. Quero continuar a crescer. Quero muito trabalho, quero estar sempre ocupada e não ter um segundo de descanso durante o dia.

Hoje eu quero que todos sejam felizes!
Hoje eu sou feliz!
Hoje eu quero que este “hoje” se transforme em todos os dias deste ano e que estes “quero” sirvam para todas as horas que aí virão.

[O tempo é passageiro, ligeiro, uma brisa inconstante e amena. Saibamos realizar o necessário.]

Fotografia e texto: Bárbara