Lírico

A minha foto
Greenland
Toda eu sou alma. Todo eu sou frio, branca como a neve. Toda eu sou sonho, céu, nuvem. Toda eu sou girassol. Toda eu serei tua, se assim o entenderes.

5 de dezembro de 2009

Poeiras do não ser



O vento trouxe-me para ti como leva uma areia ao mar. Não sei que diga, que faça. Gesticulo pequenos gestos quedos e mudos. Não sei a resposta, não: eu não reconheço a chuva. A areia se envolve no mar e se torna parte de seu interior, parte da vida de quem tão grande era, tão majestoso é. Que significam esses grandes olhos cor-das-trevas que me enfeitiçam e me levam à tua batalha?
Queria certificar-me do que aqui dentro se remexia, se criara a partir do tempo. Presa debaixo de uma rocha, perdida na friorenta camada de pedregulhos dispersos ao longo de infinitos pares de começos. Aí, teus espelhos reflectiram toda a escuridão.

Agora percebo a cor de teus olhos: possuem as trevas que absorveste do lugar onde me encontrava. Tudo se torna demasiado claro. Já não sei dizer que não sei e nem sei se sei se te dissera mas direi o que souber e daí só quero que me digas o que te vai na alma, no pensamento em questão.

Vou parar de dizer não: enviar as sombras para longe, bem para dentro dos teus olhos. Cada vez que o teu olhar me alcança sou purificada, elevada a rainha, tua rainha. O vento levará o tempo e enquanto houver movimento haverá circunstância. Segue a estrela polar, rema para norte, no cimo da montanha me encontrarás de alma vazia, já sem inspiração ou pensamento algum.

Preencher-me-ás. Te ficarei agradecida, te reconhecerei o privilégio e serás honrado e para sempre bendito. Viva o tempo que me levou à escuridão; viva o sol que me trouxe de novo a calmaria e o cheiro a água salgada. Viva eu, viva tu, vivamos juntos. Não para que a morte chegue: para que a vida não passe facilmente despercebida entre nossas memórias.

Se um dia chamares por mim e eu não tiver minhas mãos envoltas nas tuas, olhas as estrelas, entrelaça-as e escreve o meu nome no céu. Eu especularei e irei a correr para teus braços. Gostava que fossemos um, apenas um e só um ser. Assim sabia que nunca me irias perder. Assim sabia que nunca te iria perder. Sei que terei sempre o teu pensamento, o teu refúgio, o teu amor a meu lado.

Não voltaríamos a sucumbir. Seria difícil desmoronar-nos. Estaremos juntos, estaremos fortes, estarei impune ao mundo das trevas que absorveste com esse teu olhar radiante.

Só te peço: Leva-me para longe de mim, para bem perto de ti!

7 de novembro de 2009

Arco-íris


De tudo o que disse, nada foi em vão. De tudo o que sonhei? Repito: nada foi em vão. Nada vai e vem sem aviso prévio. Tudo tem uma razão de ser, uma simples abreviatura designada por sim e retorquida por uns quantos “nãos”. A vida é feita disto; esperas e desesperanças trancadas em mentes possuídas pelo pó dos maquiavélicos fantasmas que nos consomem, que nós próprios criamos e deixamos dilatar.
Não esperes, não desesperes! Vem para junto de mim afastar estas labaredas que me transformam no fogo reflectido em teus olhos. Vem! Vem cruzar o meu caminho com o teu e atravessar o rio de tempo que me atravessa.

O que digo pouco me importa, pouco te deve importar. Mais do que as palavras existem silêncios; mais do que rimas, mais do que insignificantes rumores vive em mim um entrave constante em te ter e te perder. O medo consome os fracos, a coragem apenas cabe nos mais fortes! As ilusões diluem-me os pensamentos, prendem-me o simples malabarismo de sentir, de fantasiar os olhares e as brincadeiras infantis, os risos e as palavras doces ao ouvido.

Quero voar, correr e não mais parar! Anseio a vida e ignoro os dias que somam à minha morte. Olho o arco-íris e esse espectro esperançoso difunde o que mais preciso de sentir, o que de mais belo poderia encontrar. Encontrei-te! És o arco-íris e em cada cor representas mais que uma marca, mais que uma síntese das memórias que em ti e só em ti serão gravadas. O fim está longe de começar; o inicio, esse, está muito longe de chegar ao fim.

Desenho: Alexandra Ramos
Texto: Bárbara Patrício

19 de setembro de 2009

Rodopiantes contrastes lunares



O escuro brilha. Cintilante conjunto de cinzentos baralhados num só contraste, numa só estrela. Imensidão de nada, vazio interminável. Assim, se descreve Clara. Um nome tão luminoso se apaixonou por tão dissemelhante alma. Toda ela era uma escala de brancos e pretos. Para além do nome, sua pele se assemelhava a um árido e desconhecido ponto do universo. Já seu cabelo era negro como carvão: o sol o acariciava, ela o eclipsava.

A alma era feita de pedacinhos agrafados, colados, rasgados e vagabundos ao vento, duas metades numa só. Se nunca nos tivéssemos movido até à Lua poderíamos estuda-la aqui mesmo, em pleno planeta Terra! De um lado, a luz não chegava sequer para aquecer um terço de si; não daria nem para descongelar a meia tonelada de sólido que lhe mataria a sede de vida. Existia de tudo. Pelo menos de tudo o que de pior no mundo desembarcou; aliás, na Lua aterrou.

Na outra parte de si, o caso mudava de figura. Naquele lugar, ela era a mais clara de todas as Claras. A luz solar era toda ancorada naquele lugar que a aquecia. Essa alma lunar não só rodopiava em torno de si mesma como em volta de seu coração. Dependentemente da parte que para ele estivesse virada, assim seria o seu humor, sua maneira especial de sorrir.

Nunca o organismo de alguém fora tão espacial, tão marciano ao ponto de desconhecer seu próprio conteúdo original. Refiro-me a memórias. Em vez de as guardar, expulsava-as, mandava-as embora e proibia-as de entrar. Já nem falo de sentimentos porque esses aí eram escolhidos a dedo depois de vistas as unhas em revistas de moda. Os contrastes se proporcionavam e o equilíbrio se dava: em vez de duas cores distintas porque não misturá-las, torná-las numa só?

Seria o solucionar de uma vida! Foram embora os claros e escuros; tudo se juntou e se acinzentou. O problema da anormalidade teria assim um fim previsto para breve. Mas, embora cinzenta, não se deixou de ver a preto e branco, igualzinha a uma sala de cinema dos anos 80...

Seu blog é viciante!



Agradeço à Erica, do *Luna*, e ao Prof. Sérgio, do Historico-Filosoficas, a atribuição deste prémio ao Feelings.
Agora, devo, assumir três compromissos, para além de publicitar o prémio “Há blogues viciantes” e endereçá-lo a dez outros blogs.

1. Tentarei ser mais arrumadinha, ordenando melhor as respostas ao expediente e ao atempado arquivamento, no escritório, e com coisas pessoais em casa;

2. Tentarei ouvir mais e não insistir na minha opinião mais que o estritamente necessário evitando conflitos espúrios;

3. Tentarei não me importar com os feitos e defeitos do meu Porto;

Confessados publicamente os pecados, só falta mesmo enunciar os blogs viciantes. Entre tantos merecedores:

4 de setembro de 2009

Seu blog é mágico !



A música mágica: Metallica - Nothing Else Matters

O filme mágico: Idade do Gelo

A viagem mágica: conduzir uma nuvem e percorrer os céus

A maquilhagem mágica: a simplicidade


5 blogs mágicos:

- Beatriz Araújo

- Cátia Barbosa

- Zézinho

- Michelle

- Emma

Obrigado Raquel e Érica pelo miminho :D

1 de setembro de 2009

Vida consumida por ódio, levada pelo demónio!

"Para ser sincera, não tenho memórias. Pelo menos de uma vida. Fui deixada com o mundo no limiar da infância. Não que a culpa fosse deles. Um qualquer embriagado infringiu todas as regras de trânsito. Muito para além dessas simples regras mundanas, cometeu o pior pecado, o maior acto de ignorância! Num segundo a vida lhes fluiu do corpo, um embate os projectou para fora, bem longe dali. Sofri mas ainda sofro!
Era pequena e não entendia muito do que entendo hoje. Posso não ser grande mas sou suficientemente consciente do meu ódio, do desejo que tenho em encontrar por fim esse homem. Esse dia iria chegar… por fim, finalmente chegou. Pude contemplar o rosto descaído daquele inconsciente assombrado por fantasmas do passado, por erros irremediáveis, por um peso na consciência que o acompanhará até ao seu fim! Me implorava por vida, me questionava a identidade, o porquê…
Queria dar-lhe de mão beijada o destino que concedeu a meus progenitores e toda a dor que por mim foi sentida. Fazia-lhe pontaria ao orgão digestivo que jamais iria digerir. Não o mataria de uma vez mas aos poucos… o ácido lhe iria corroer a carne, agonizando-o! Não chamaria isto de vingança, talvez ajuste de contas.
Sentei e observei aquele triste fim. Sentia-me concretizada! Até que a morte lhe transpareceu pelos olhos… olhei-o uma última vez e aí a felicidade escapou-se assim como a vida.
Cheguei ao limite da compreensão, abri meu ser e expandi o olhar: naquele momento foi-me concedido o vislumbrar mais claro de todos. Uma vida não traria outra quanto mais duas! O rio era testemunha de meu acto cruel, a água corria e levava consigo o sangue. Talvez transportasse também meu pecado. A ponte me convidava a subir, o líquido me iludia a mergulhar. Olhei derradeiramente o céu e pedi desculpa aos anjos: perdão pela raiva, pelos actos, pela idiotice… e mergulhei. Morri exactamente como meus pais: um violento embate nos esmagou a vida, nos trancou o coração… "
Açucena escreveu a sua própria morte mesmo quando a vida ainda lhe corria nas veias. Seria por muito pouco tempo. Escreveu, desapareceu e concretizou o fim da escrita, da sua própria história!

27 de agosto de 2009

Esconde o sono, realiza um sonho!

Olha-me nos olhos, digitaliza-me a mente. Agarra minhas mãos e sente um leve arrepio, um breve desvanecer. Leva-me contigo para longe, ainda hoje. Encurtei as palavras para que mais fáceis se tornassem de ler. Assimilei passados afim de obter (re) começos. Pensei, dormitei, sorri e chorei… Uma ideia surgiu, um sentimento cedeu finalmente: queria tréguas!
Pedi-te o mundo para que o pudesse virar do avesso. Questionei-te sobre a luminosidade lunar mas a Lua supostamente não reflectia, nem interessava. Teria de esperar, era ainda bem novinha e cheia demoraria a ficar. É um ciclo vicioso este de morrer nascendo, brilhando sumindo!
Realmente falei-te dos anéis de Saturno, na esperança que coubessem num dedo. Não apenas calaste, viraste costas! As palavras não te flúem. Odeia-las por mostrarem o que não queres ver, o que irreversivelmente se perderá!
Haverá fantasmas em Mercúrio? Talvez carbonizados demónios. Pensando bem, só sentes no Ártico: onde a dor congela e entra em esquecimento. Não te recordas é que congelada, ela permanece eterna. Os calorosos diabretes te perseguem fazendo acontecer uma estrondosa dança de descongelamento! Amenizar tem os seus perigos mas as vantagens compensam. Agora que me debruço no fogo reparo que raramente deixaste de ser um bloco de gelo.
Frio, sólido, aprisionado, sem palavras… fecho os olhos na esperança de saber a verdade, a sonhar com o dia em que deixarás de ser um simples vento gelado que me aquece e arrefece. Gotejas agora, derretes depois. Escondes-te no infinito do oceano para que não mais te possas fazer sentir. Grita desejos, afirma teus quereres! És alguém, demonstra-o! Liberta-te das redes que prendem tua alma às profundezas daquele inferno! Sobe a montanha, respira o ar rarefeito e sente o bater exagerado de uma bomba que tende a não parar: acima de tudo, sente!

26 de julho de 2009

Maré de tempo...

Ela não era muito diferente dos raios de sol até então lançados sobre a Terra. Ele conseguia dar-lhes ainda mais brilho. Eram partes integrantes do mesmo ser, eram bocados de um todo. Possuíam-se, ambos se dominariam até a um dia chamado “sempre”. Tudo o tempo traz e tudo ele leva de volta. Os olhares e sorrisos, as alegrias e aquosas tristezas… quase tudo veio e não mais voltou. Tudo menos as memórias que serão recordadas eternamente, para além dos limites da compreensão da própria existência.
Elsa escreve e chora: lacrimeja porque revive os pedaços partidos de um todo que o tempo ainda não levou. Nem irá levar. Tempo será sempre resumido a meros segundos que lentamente passam ofuscados num senão. E enquanto que as horas voarem, os bocados partidos levitarão. As breves escrituras que molda em papel ondulado retratam a manhã que ela nunca esquecerá. Os raios luminosos rasgavam o céu e bombardeavam em paz. O seu cabelo reluzia e em seus olhos se poderia desvendar uma esverdeada fauna. Este seria o dia do todos os dias, o primeiro e derradeiro dia.
A vergonha o invadia mas a vontade o incentivava a fazer o tão esperado pedido. À beira-mar eles conversavam, riam e contavam passados. Até que se olharam… se fixaram nas palavras silenciosas aí espelhadas. Seu coração batia num ritmo embalador com as ondas e o dele… simplesmente deixou de bater. Antes que tivesse feito qualquer pedido, muito antes dos silêncios serem quebrados. Ela o olhou mas em seus olhos já não havia sinal de vida. Entreabertos, eles anunciavam com delicadeza a sua chegada ao reino dos céus.
Agora, Elsa se debruça em pranto e se diminui perante uma dor que o tempo ainda não conseguiu levar. A consciência lhe rói pelas palavras: por aquelas que não foram ditas e aquelas que foram deixadas por dizer. Tenta seguir, descobrir o encanto das manhãs calorosas mas o seu brilho se foi e todos os seus encantos perderam a aparente função. Segura na caneta, concentra-se no papel e chove em sua própria casa: uma chuva de lágrimas inocentes no silêncio da noite. Tudo o tempo traz mas será que tudo ele leva?

19 de julho de 2009

Selo "Olha que blog Maneiro!"


Regras:

1 Exiba a imagem do selo "Olha que blog maneiro"
2 Poste o link do blog que o indicou
3 Indique 6 blogs da sua preferência
4 Avise seus indicados
5 Publique as regras
6 Confira se os blogs indicados repassam o selo e as regras

Zézinho, de José Silva me seleccionou

Historico-Filosoficas , de Sérgio Morais
cogitar, de Maneul Afonso
Pensamentos constantes, de Diego Monteiro
*LuNa*, de Érica Machado

17 de julho de 2009

Um sonho apenas!

O olhar desmorona-se, a consciência entra num sono profundo. Do presente nada tenho a dizer, do futuro pouco mais tenho a acrescentar. Tempos que fazem anos, séculos que em breves segundos se vão. Inconscientes nascemos, inutilmente vivemos e tristemente partimos sem deixar qualquer rasto de glória. Tenho vagas memórias, pedacinhos de céu guardados em mim. Nada do que possa imaginar se pode igualar a isto, uma vida destruída, um sonho escondido.
Mas paremos de falar de passado. Agora só o escasso futuro importa. Sara já nem de últimos falava. Receava o dia da partida tanto quanto o dia da própria chegada. Decerto que não iria desaparecer tristemente: possuía um cantinho daquela correria, um pedaço daquele lugar só seu e um maligno gene, uma herança maldita. Entre picos e planícies a sua vida se ia esgotando, em contagem decrescente. Sempre sonhou em dar utilidade às cordas vocais mas sua belíssima voz apenas entoava aquele quarto escuro onde as partículas de oxigénio lhe atribuíam salvas de palmas infinitas. Sonhava esbatida com a noite em que subiria a um palco com os seus longos cabelos apanhados, encaracolados. Na sua meninice, a alegria contrariava tudo o que de mais negativo lhe fosse proposto. Anos passaram e tudo se evaporou: sonhos, vida, alma, coração!
Jamais parou de lutar. O que mais desejava não era ficar ali mas sim ir em paz e na companhia do Senhor! O caminho seria longo, a recompensa seria ainda maior. A dor iria acabar, o sofrimento levemente se desentranharia dela. Uma noite, na escuridão do agora e sempre seu lar, Sara adormeceu para nunca mais acordar. Nem sorriu, nem segundo lhe deram para libertar uma pura lágrima, nem num momento lhe concederam o prazer de voar. E assim foi, caminhou por uma longa planície e desapareceu no reflexo do sol, o reflexo de um diamante…

4 de julho de 2009

Perigosos segredos…

Tardes de Inverno, facas afiadas, geladas picadas turbulentas, lágrimas miudinhas cristalizando a dor…
Noémia desgastava um pouco mais os dedos, enlaçava num embaraçante jogo de linhas redondas bem preenchidas de espaços vazios. Sentada à luz da lareira, esperava e não se cansava de perder seu tempo em tão desgostoso trabalho. As pérolas cristalinas escorridas de seus fontanários espelhados eram lentamente absorvidas pelo pano carente envolto em tão poucas mãos.
Nunca foi senhora de inovações: rotineira e de relógio certeiro lavava, cozinhava e varria o chão sem vestígio de partícula. O movimento era pouco. De muito aquilo não tinha nada. Anoiteceu. O vento uivava ao desafio com a chuva chicoteando o vidro da janela de seu quarto. É aqui, neste momento só seu, onde é ela a rainha, que a sua memória lhe permite buscar os mais íntimos segredos. A sua pele era vidro e seu amante cristal. Seu marido era vento e minha água seu beiral.
António nunca soube o quanto ela gostara dele. Assim, o Sr. Anjos, de tão angelical ser denominado em terra, poucos louvores conseguiu no céu! Seu fígado perdera a função mesmo antes de se casar e a partir daí, deixou mesmo de funcionar, despachando as partículas exageradamente alcoólicas.
Comida feita, roupa lavada, amor esperando à porta… Que mais se poderia desejar? Uma bela garrafa do melhor vinho da região pois é claro! Amor? Fictício! Isso não era coisa para se demonstrar!
“ António Manuel Gomes dos Anjos aceita Noémia Maria Mendonça Gonçalves como sua esposa e promete ama-la e respeita-la na alegria e na tristeza, na saúde e na doença até que a morte vos separe? “
Promessas desfeitas num descortinado piscar de anos. Ambos se voltaram a enamorar: ela pelo vizinho, ele pelo seu eterno vinho. A desgraça ocupava aquele lar, a vergonha o fazia levitar. Um fim, uma derradeira despedida, uma leve carícia, para sempre um olhar fechado… Pouca sorte teve António, o vizinho Manuel não lhe pôde sorrir. Evaporaram ninguém sabe como, arderam nas profundezas do Inferno, não viram mais nada com aqueles olhos que a terra havia de comer… e comeu!
E ali, debruçada nos lençóis saudosos do toque de um homem, recostada na cama, se lembrava do triste destino que lhes tinha entregue: a eles e a ela! Até a mais superficial das mulheres esconde segredos mais profundos que oceanos, impossíveis de revelar… Também Noémia tinha os seus!
“ Oxalá estivessem a descansar junto do Senhor, oxalá Deus me perdoe este terrível pecado, esta horrenda mentira. ”
Peso de consciência, vidas aniquiladas no seu inverso. Um olhar diz tudo, um gesto resume a nada. Nem todos os segredos possuem a sua mísera ausência de mentira. Este tem apenas uma cumplicidade de almas perdidas, devastadas a puro e duro. Ela continua aqui, viva e de consciência basáltica, bem perto dos seus mais queridos. Eles encontram-se bem longe, nas mãos de um justiceiro. Os seus actos os resumiram a pó, que a terra havia de comer… e comeu!

13 de junho de 2009

Razões…

Fecho-me em mim, bem no fundo do meu ser e encontro isto: estou vazia! Oca porque não me tenho a mim ou porque tu já não te encontras cá?

Apenas diminuo as lanças afiadas e viajo… Vou encontrando minúsculos pedaços de um eu, ouvindo vozes, percorrendo labirintos. Esta gente que fala sem saber o que diz! Quero não me deixar lesar mas no fim de contas elas prejudicam demasiado, cada vez mais. Vão transformando o que sinto, a poucos e escassos pronunciares. Destroem cada pedaço do meu ser, espalhando-os por quilómetros de sentimentos.

Sentimentos?

Há ocasiões em que igualmente planeava não sentir, negar o saber, encontrar-me completamente despojada, roubada de mim. E num ápice tudo vai… O que se edificou, desaba por um sorvedouro onde a negrura prevalece. Talvez tudo o que se arquitectou não fosse assim tão sólido como previa, como prevíamos. Não detínhamos ninguém, nenhuma alma nos iluminava o caminho. Pequenos diabos só distanciavam, as trevas nos agasalhavam de temor e as flores iam prometendo um mirar sínico.

As forças esvaeceram, lutar não é jamais a minha metrópole. O meu centro vital já não bate para viver, apenas sobreviver! Agora não articulo: suspiro. Detenho um medo miudinho, delgadinho como um fio de água percorrendo o rosto. Aqui, conhecia o brilho de um sorriso mas agora também sei olhar lamentavelmente o firmamento.

A chuva branqueia-me a alma, causa o teu despertar. Cada gota que me bombardeia é mais uma razão para viver, para vivermos. Coberta de causas, respiro fundo e os pulmões experimentam delicadamente as carícias do ar.

A paisagem me questiona, considero-me inútil, medito nas minhas importâncias e nasce um sorriso. Aprender a preferir, diferenciar, fundamentar… saltito pelos segundos, cabeça erguida, mão no coração: não vá ele fugir para ti!

10 de maio de 2009

Bons velhos tempos, autêntica idade de criança!

Ainda me recordo, lembranças se ocupam da minha mente e da minha alma saltam gargalhadas ao poder recordar toda aquela imensidão de exultação que por muito que fosse usada, não acabava nem se transformava em algo inferior. Todas aquelas brincadeiras de criança ficarão para todo o sempre gravadas como uns dos melhores momentos da minha incerta existência.

Imaginação criava e ajudava a alimentar os instantes em que nada tínhamos a fazer. Nunca ficávamos sem posto, inovávamos e escolhíamos constantemente como agir ou contemplar o firmamento e as estrelas tão distantes. Sonhávamos ao olhá-los e pensávamos estupidamente como se de verdades absolutas se tratassem. Simplesmente renascia em nós inteligência e ideias evocadas agora e feitos motivos de uma boa conversa. Tardes de Verão inesquecíveis a brincar e imaginar como seria viver num daqueles milhentos planetas cintilantes ou o porquê de não poder ir e chegar bem perto da Lua. Ela encantava-nos, fazia de nós eternas crianças e quando a olho mais e mais uma vez ainda me sinto muito assim: uma eterna menina.

Dias passavam num ápice, juntos íamos ao fim do mundo numa única ocasião. Vagamente me recordo das festas da aldeia. O fogo-de-artifício era o momento que mais ansiávamos . Contávamos todos os minutos até às doze badaladas e por os fim escassos segundos que restavam. Da varanda da casa da nossa avó apreciávamos aquela junção quase perfeita de cores, sons e iluminações. A aldeia resplendecia quando cada um deles explodia, uma circunstância de dia nascia à noite, mais umas dezenas de outras pessoas sentiam não o mesmo mas o quase que nós. Talvez porque já em pequenas tivessem feito o mesmo ou a idade e os tantos anos a apreciar o mesmo fenómeno os tivesse habituado a tal. Quando acabava íamos para dentro, brincávamos um pouco mais e soltávamos mais alegria àquela casa que tanto venerávamos.

Depois apenas acompanhávamos os nossos pais para as nossas dissemelhantes casas e cobríamos as retinas esperando calmamente que o tempo corresse e que novamente se compusesse o dia. E assim como um ciclo sem fim, os dias cessavam e a imaginação não matava a sede de diversão de que usufruíamos. Os animais cantavam connosco e os objectos ganhavam vida à nossa passagem; éramos ressuscitadores de almas mortas e despertadores de vivos espíritos.
Tempos passados contigo, que continuam a passar. Desta vez de uma forma diferente: crescemos, ficámos maiores por dentro e por fora mas aquelas memórias nunca mais serão esquecidas e o rio de imaginação nunca mais será quebrado. De futuro não sei o que nos reserva mas a amizade, uniões de família inquebráveis, são razoes evidentes para continuarmos a sorrir, correr, imaginar e sonhar como sempre fizemos…

3 de maio de 2009

Mundos Mudos '

A esperança deste mundo reside em ti, em mim, em nós…


Tudo quanto sabemos ou alguma vez tentámos construir desapareceu, os projectos pensados e repensados foram engolidos por terra firme e impenetrável, os olhares e sorrisos são agora taxados por cobradores importunos de novos impostos, as lágrimas são contadas uma atrás de outra para que um império seja formado, os gritos de um infeliz louvor foram erguidos enquanto os de pavor foram abafados e retornados até às profundezas deste Inferno. A vegetaçao não mais tem cor, o sol já não brilha nem aconchega com calorosos raios todo este mundo, os senhores do poder estão bem colocados enquanto pobres desgraçados se matam por um bocado de pão. O pão nosso de cada dia repartido igualmente por todos? Quem dera que assim fosse!

Pobres moribundos, mendigos vagabundos igualados a cães esfomeados sem eira nem beira; crianças abandonadas nos dejectos do mundo, culpabilizadas e pagando por erros que não cometeram; epidemias, doenças, gripes, drogas, passadas e transformadas para desgraça de uns e superioridade de outros; guerras e conflitos sem fim que começam por birras e acabam com mortes, se acabarem…; tecnologias que nos fazem ficar tão perto dos outros mas tão longe de nós próprios, amores sumidos, amizades roubadas, famílias destroçadas, pessoas ignoradas, atrocidades cometidas, sangue derramado…

Nascemos tão simples mas com objectivos descomunais, metas a conseguir e território para conquistar, regras a cumprir e pessoas para auxiliar, oportunidades a aprisionar e sonhos a realizar. Nascemos com muitos propósitos e apenas um os resume: Mudar o mundo! Acredito que cada ser concebido a cada segundo passado e futuro irá mudar este ‘beco sem saída’ à sua maneira. Pode mudá-lo a escrever, a pintar, a cantar, a trabalhar, a deslumbrar ou até a pensar mas irá torná-lo diferente do que o que era quando abriu pela primeira vez os olhos.
Também tu e eu devemos alterá-lo, transformá-lo, moldá-lo, fazer dele uma casa para todos, derrotar os grandes, vangloriar os insignificantes, controlar as injustiças, educar os marginalizados, pegá-los a todos por uma mão e fazer deles algo tão bom que também eles perceberão a sua função aqui. Durante toda a minha vida irei transferir todo o meu ser para que esta nossa ‘casa’ se torne a melhor possível para vingar os que já foram, para os que já estão e para os que aí virão.

O que já fizeste para mudar o mundo? Achas que o mundo está perdido? Imagino a tua resposta… Achas que não vale a pena porque ele já está completamente perdido, os humanos não têm mais maneira de se reconverterem e se os outros não mudam, tu também não vais mudar pois és só um e não vais fazer diferença. Só te digo isto: soma-te com os outros e sereis milhões; agora já não és só um. O mundo não está perdido como pensas, ainda não se descortinou e com pessoas como tu nunca se irá algum dia avistar…

27 de abril de 2009

No fim do mundo…

No fim do meu mundo, tudo o que conheço desaparece. As memórias de um destino que tracei, as ilusões de emoções que sonhei, as pequenas formas de uma escultura que eu própria moldei esvaem-se por um afluente sem foz de tempo e nada. E tudo quanto tenho inscrito na minha falsa memória escorre por horas que jamais alguém conseguirá esgotar, por minutos que nunca ninguém conseguirá evaporar, por segundos que toda a gente irá glorificar até ao infinito dos infinitos. Ilusões, que se tornaram em simples maneiras de fugir à realidade por vezes tão cruel e difícil de aceitar. Sonhos, que já foram mais do que o que são; agora uma pequena tendência os orienta pela pratica e jamais como antes apenas pelo pensamento ignorante de então. Memorias, que ficaram mais do que gravadas neste (in)útil cérebro digno de orgulhos pelo hoje e espero pelo sempre. Tempo, que se foi e se vai e volta às origens moribundas de onde foi permitido arrastar sentimentos e abanar corações.

No fim do meu mundo, não há promessas incompletas. Existem apenas juras de amor que à muito foram esquecidas por um vento mortífero e que os fez descansar em paz. Juras de amor: promessas delicadas e macias, rejuvenescedoras da alma e do coração. Promessas, que quando feitas nunca eram quebradas nem com pingas de água erosivas de pedras duras como diamante. Juras, feitas por apaixonados loucos debruçados de joelhos cumprimentadores de solo. Promessas e juras que só a morte podia quebrar e quebrou. Um leve sopro de ar maldito bastou para que todo aquele amor prometido se desmorona-se e caísse no esquecimento dos vivos e dos mortos. O amor que se sentia, e ternura e amizade desde então não foram os mesmos. O que se observava ou sentia melhor dizendo, eram pequenas sensações dadas pelos sentidos que nos reconhecem como seres sensoriais, únicos e suficientemente inteligentes.

No fim do meu mundo, só há mentira porque a verdade longe lá vai. As bocas coscuvilheiras teimam em lutar contra um silêncio, cura mais que perfeita para este tipo de falares. Verdade que foi e que não é, que à muito lá vai mas que não reconhece o caminho para uma tão desejada chegada. Bocas que falam e teimam em não fechar, em continuar com as mesquinhas mentiras que tanto são agulhas penetradoras de mente humana, assassinas esperando pelo melhor momento para atacar a presa mais fácil. Mentiras, que com o passar do tempo foram idealizadas como padroeiras de bocas de gente ingrata e infeliz com a vida que lhe foi concedida. Um dia, a verdade voltará e os falares alegres e animadores da alma ressuscitarão e com eles trarão a gente boa. Gente, que apenas falará a verdade e só a verdade até que a morte lhes tire o ultimo suspiro.

No fim do meu mundo, não há perfeição; apenas uma imperfeita noção de saber. Saber, que se interioriza tomando posse de alguém, parasitando positivamente ou não quem o transporta. Será que dominamos o saber? Definitivamente não. Não, porque existem perguntas às quais não encontramos respostas. Respostas que teimam em não aparecer; respostas que apenas se sentem sem que nunca sejam comprovadas; respostas desejadas por perguntas sem fim algum. Não sejamos fúteis nem superficiais. Entremos pela raiz das coisas, filosofando. Nem um tudo do planeta que nos prende a um mísero chão sujo e pecador que arde em frente dos nossos olhos e faz flamejar a alma, conseguirá num momento oportuno encontrar uma desejada resposta a uma aleatória pergunta. O que existem são hipotéticas teorias que nem são chamadas como verdadeiras ou falsas. Apenas como validas ou inválidas.

No fim do meu mundo, o céu cai e o telúrico ascende ate ao infinito. As raízes das árvores debruçam-se dançando ao som do vento. O dia e a noite alteram-se como se brincassem a um jogo de sedução perfeita. Tudo contradiz as leis da Física, leis que não podem ser quebradas sem que o caos se instale e tome conta do que lhe rodeia. Mas não. Embora tudo estivesse ao contrário e as leis da Física fossem simplesmente um saber errante, a calma e a paz mantinham-se. Vivíamos agora num grande buraco, numa enorme esfera oca. Por fora, lavas ardentes ferviam e borbulhavam dando aspecto infernal a quem realmente não o possuía. Por dentro, a serenidade reinava, as águas escorriam por curvas telúricas superficiais e por falhas que faziam das gotículas, abióticos com suicídio inadiável.

No fim do meu mundo, eu não sei de ti e tu de mim não sabes. Somos como pessoas com partes trocadas; é como se possuísses a parte lógica e eu te possuísse a emocional, obrigando-me a pensar com o coração e não com a cabeça, a ignorar a parte pura da minha razão e sujeitando-me a intervenções da tua parte sensível. Sou um ser pensante, errante e extremamente lógico. Ou pelo menos era. Agora, dou por mim leve demais, a parte lógica que possuía me foi retirada e trocada por supérfluos sentimentos que me fazem fraca mas única na minha pobre existencialidade. Um ser que pensou e que sente… Sofre por quem não deve e despreza o que lhe é fundamental, comete erros. Já me decepcionei com pessoas que pensei nunca me decepcionar, mas também já decepcionei alguém! Já amei e fui amado, mas também já fui rejeitado, fui amado e não amei... Magoei-me muitas vezes, já chorei a ouvir musica e a ver fotografias, já liguei só para ouvir uma voz, apaixonei-me por um sorriso, já pensei que fosse morrer de tantas saudades, e tive medo de perder alguém especial… Mas ambos somos assim minúsculas marionetas capitaneadas por forças superiores que nos concedem liberdade, direito de escolher entre a virtude e a imperfeição.

Basicamente, no fim do meu mundo não existe absolutamente nada além de muita imaginação que faz com que ideias tão distantes possam chegar tão perto de mim. Imaginação, que faz de mim o que sou, o que instruo e construo, que me possibilita ir a lugares longínquos sem que do sítio me abstraia. Imaginação, que me permite voar e autoriza pessoas como eu a escrever textos resumidos a falar de Homens e do que por estes é possuído. Neste fim do mundo, existem os Homens e o resto das coisas, o Ser Pensante e o que lhe está ao serviço. Estes homens e mulheres de que falo pensam ter poder sobre tudo o que os rodeia apenas pelo simples facto de possuírem uma razão que os orienta e nos distingue da (ir)racionalidade dos animais. Agora pensemos. Existirá algo superior ao Homem? Aqui têm uma das respostas: se não houvesse coisa superior ao Homem, este saberia tudo o que há para saber, alcançava a tão desejada perfeição divina e teria poderes extraordinários. Também podem escolher outra. Dêem asas à vossa imaginação e voai… Eu, fico-me por esta pois é no que acredito que seja verdadeiro.

25 de abril de 2009

O que sou…

Eu?
Eu sou como o vento: nunca paro.
Sou como os pássaros: livres e sem destino.
Sou como a água: límpida e fresca.
Sou como as montanhas: altas e esguias.
Sou como os cofres: guardo safiras e rubis.
Eu sou o que sou e não me peças um modelo porque eu sou única.
Quando me olhas de lado, sabes que sou o que nunca serás;
Quando me magoas, sabes que não vou cair
E se o fizer levantar-me-ei sempre.
Quando eu te peço ajuda e tu simplesmente me ignoras,
Seguirei sozinha o caminho.
Quando ficas feliz com os meus erros,
Podes vangloriar-te à vontade: são apenas pequenas falhas.
Quando me ignoras e isso te faz sentir bem,
Lembra-te que também serás ignorado.
Podes tirar-me tudo o que tenho,
Tudo o que mais amo e sem o qual não suporto viver.
Mas não me tiras o que de único existe em mim,
Que mais ninguém à face da Terra possui: o que fui, sou e sempre serei.
A minha arte de viver, os meus gestos,
A minha personalidade, as minhas parvoíces, o meu próprio “eu”
Isso tu não me podes tirar.
Não me invejes nem cobices;
Não me desejes nem me anseies;
Não me critiques nem me afundes no oceano,
Pois nunca serei o que queres que seja.
Deixa-me!!!
Não me prendas mais.
Não quero que me possuas, não quero que me magoes,
Não quero que me faças cair, não quero que me critiques.
Apenas que me completes, que me causes felicidade,
Que me ajudes a levantar, que me construas,
Que me libertes do escuro do oceano.
Não quero saber o que pensas de mim,
Se gostas ou não de como sou ou deixo de ser.
Só sei que falas de mim, logo importas-te comigo!
A tua opinião só me importa se for para me construir.
Se o que queres é destruir-me, o teu conceito de mim pouco me interessa.
Da inveja faço um degrau e das pedras que me atiras
Farei um grande castelo que me protegerá.
Deixa-me voar livremente, desvendar conhecimento que não possuo,
Pairar sobre os Humanos e o resto,
Preencher as fendas do mundo com algo benigno e inestimável.
E o mais importante: deixa-me ser “eu” à minha maneira e não à tua.