O vento trouxe-me para ti como leva uma areia ao mar. Não sei que diga, que faça. Gesticulo pequenos gestos quedos e mudos. Não sei a resposta, não: eu não reconheço a chuva. A areia se envolve no mar e se torna parte de seu interior, parte da vida de quem tão grande era, tão majestoso é. Que significam esses grandes olhos cor-das-trevas que me enfeitiçam e me levam à tua batalha?
Queria certificar-me do que aqui dentro se remexia, se criara a partir do tempo. Presa debaixo de uma rocha, perdida na friorenta camada de pedregulhos dispersos ao longo de infinitos pares de começos. Aí, teus espelhos reflectiram toda a escuridão.
Agora percebo a cor de teus olhos: possuem as trevas que absorveste do lugar onde me encontrava. Tudo se torna demasiado claro. Já não sei dizer que não sei e nem sei se sei se te dissera mas direi o que souber e daí só quero que me digas o que te vai na alma, no pensamento em questão.
Vou parar de dizer não: enviar as sombras para longe, bem para dentro dos teus olhos. Cada vez que o teu olhar me alcança sou purificada, elevada a rainha, tua rainha. O vento levará o tempo e enquanto houver movimento haverá circunstância. Segue a estrela polar, rema para norte, no cimo da montanha me encontrarás de alma vazia, já sem inspiração ou pensamento algum.
Preencher-me-ás. Te ficarei agradecida, te reconhecerei o privilégio e serás honrado e para sempre bendito. Viva o tempo que me levou à escuridão; viva o sol que me trouxe de novo a calmaria e o cheiro a água salgada. Viva eu, viva tu, vivamos juntos. Não para que a morte chegue: para que a vida não passe facilmente despercebida entre nossas memórias.
Não voltaríamos a sucumbir. Seria difícil desmoronar-nos. Estaremos juntos, estaremos fortes, estarei impune ao mundo das trevas que absorveste com esse teu olhar radiante.
Só te peço: Leva-me para longe de mim, para bem perto de ti!