Lírico

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Greenland
Toda eu sou alma. Todo eu sou frio, branca como a neve. Toda eu sou sonho, céu, nuvem. Toda eu sou girassol. Toda eu serei tua, se assim o entenderes.

6 de fevereiro de 2010

Lar de papel


Cada vez que aqui me encontro, uma imensidao de tudo me transborda; talvez porque contenha um pouco de tudo neste já muito de nada. Olho as vivas cores de um espectro semi-cerrado, sinto o suave aroma a terra molhada e escuto o constante chilrear dos voadores. Um fim de tarde mas nunca um fim de vida…

Sento-me e uma luz passageira me aconchega, aquecendo-me intensamente. Ergo o meu olhar, contemplo o céu azul-bebé sorrindo para mim, algodão doce com sabor a chantili e minúsculas criaturas pairando. Aqui encontro um refúgio. Melhor dizendo: aqui sinto-me realmente em casa, envolta num verdadeiro conceito de lar. Na verdade possuo demasiados lares: minhas casas, memórias, passados e isto. Isto a que chamo fuga, casa das horas vagas.

Penso e repenso. Dou um rumo a minha inteligência, largas à minha imaginaçao e perco o rumo que parece não andar nem desandar. Muitos perderam a esperança em eu algum dia ser alguém; outros me prometem algo que nunca cumprirão mas com a mesma confiança no falar como se tivessem as certezas que eu não tenho do amanhã; ainda há aqueles cujos rostos alegres me difundem algum deste sentimento e me deixam totalmente viva.

Minha alma não está cheia e meu pensar vazio continuará, dito isto na boca de muitos até parace mentira. Se o pensam, estão triangularmente enganados. Entre este meu ser e o que o envolve existe apenas uma rotura: diferenças de concentração abismais.

Estarei eu à espera que alguém me difunda ou terei eu de tornar a difusão possível em alguém? Será que já difundi tudo o que tinha para o exterior e fiquei plasmolizada ou é o lado de fora que não está preparado para me transbordar? Seja o que for, está na altura de retribuir, me preencherem o espaço que resta, se ainda restar. Não que reste muito já.

Vejo este local igualmente vazio, tanto quanto eu. Minhas lanças se baixam e mergulho em escuridão, num sono profundo. Como que por magia, isto se representa em minha mente e imagino neste lugar uma família, coisa que já á muito passou. Crianças brincando nos rochedos, fazendo papas de ervas daninhas, colocando um majestoso ramo de flores campestres na jarra da mesa de jantar para surprender a mãe.

O homem da casa esforça-se para que consiga dar à sua família tudo o que ela carece. Constrói belas paredes de cimento e blocos, aperfeiçoa as linhas e dá uns últimos retoques no que será o seu completo lar. A mulher cozinha à luz da lareira pensando em saciar as bocas famintas do marido cansado carregando um dia inteiro de trabalho árduo e duas crianças já fartas de brincar, rir e imaginar.

A noite cai e só me apercebo dos mimos, dos aconchegos. Como dever de progenitora, reconforta suas crias em suas camas e lhes narra uma daquelas eternas histórias de embalar. Por fim, as pequenas adormecem e concedem à noite mais duas mentes férteis, mais duas lindas visões de um sonho em comum. A mãe se deita ao lado do pai e ambos sorriem apaixonados. Um beijo de boa noite se solta e um abraço se dá. Adormecem juntos, unidos para sempre por um amor que nunca mais acabará, por algo tão imaginário quanto eu.

Tempos que passaram cheios de vida… agora o ser sumiu-lhe e o que superficialmente se vê é um amontoado de madeira resguardando memórias. Sei que elas não mais sairão dali, daquele maravilhoso lugar. Sinto-me a viver aquelas vidas, ponho-me no lugar de cada um deles e penso que mesmo quando a vida lhes reservava o pior dos desfechos, eles continuavam unidos. Era isso que os fazia fortes, era aquele lar que os tornava uma família e aquele amor que os fazia transbordar na alegria e nos sorrisos.

Daqui me retiro um pouco mais cheia, de respirações, de conversações e de emoções. Entrei de olhar derrotado, saio com um triunfo cintilante, confiante em mim, mas ainda com muito pouco por conquistar, grandiosamente desconquistada. Uma certeza me preenche, me transborda e me cativa a seguir caminho: sei que não estou sozinha, continuas comigo.

3 comentários:

Cristina Serra disse...

Gostei muito =)

Pode se de papel, mas é um lar... E pensar, imaginar, viver memórias, pode trazer-nos um pouquinho dessa felicidade...

Continua.

Unknown disse...

lindo...........esta brutal este texto ..virei mai svezes...visita me

Anónimo disse...

Está mesmo giro este texto.
Gostei imenso.
Ganhaste uma seguidora, tens um blog muito porreiro.
Beijinho