Lírico

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Greenland
Toda eu sou alma. Todo eu sou frio, branca como a neve. Toda eu sou sonho, céu, nuvem. Toda eu sou girassol. Toda eu serei tua, se assim o entenderes.

14 de maio de 2011

Minusculidades


Os dias desaparecem a correr e as noites converteram-se, de repente, em vagarosas e frias temporadas. Recosto-me no sofá, abrigada por um delicado cobertor de algodão e faço por sentir a agitação nocturna, mesmo com o ensurdecedor banzé das linguagens que solenemente se ausentam da interactiva caixinha preta e se conduzem até mim.

Intervalo.

As publicidades assaltam as minhas sensações e conquistam aquele espaço desguarnecido entre os programas (realmente?) atraentes. É deveras melancólico ter de aguardar tanto tempo até continuar a perseguir com os olhos e os ouvidos uma narração que podia muito bem ser a minha.

Que caricato!

A caneta desacertou em pleno acto de escrita! Não vou cessar: perdurarei, escrevendo, branco sobre branco, deixando a marca dos vocábulos que neste instante me sucedem, como uma mensagem sigilosa e confidencial.

O silêncio invadiu-me o quarto e o sono está prestes a invadir-me a mim. Toda a casa dormita. As cortinas examinam-me, altivas e imponentes, perguntando-se: “Que estará ela a confeccionar?”
Pois bem, minhas caras cortinas, aqui entre nós, vos respondo: estou a fazer algo que à partida é banal, secundário mas que, mesmo assim, é importante que seja concluído! É nas mais diminutas coisas que se descobre a pura felicidade, a verdadeira sensação de independência e espírito crítico.

Agora, se me permitem, amigáveis cortinas, atrevo-me a mais vos dizer: vocês são apenas cortinas, longas e finas cortinas, mas sem a vossa presença, este quarto seria mais desabitado e oco, menos acolhedor e afável, menos meu. O mesmo encaixa para os móveis, a roupa da cama, os candeeiros e a decoração.

Aprender a administrar valor às minguadas coisas que possuímos é a chave para sermos capazes de atribuir uma interpretação à nossa existência, ao nosso caminhar e à longa jornada que todos os dias teimamos em não largar.

[Pois foram as minusculidades que amamentaram as maiores grandezas do mundo!]

1 comentário:

Duarte : D disse...

tens toda a razao!!

bjs Duarte