Lírico

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Greenland
Toda eu sou alma. Todo eu sou frio, branca como a neve. Toda eu sou sonho, céu, nuvem. Toda eu sou girassol. Toda eu serei tua, se assim o entenderes.

15 de agosto de 2011

Libertação



Hoje reparei como tu eras belo. És apenas uma miragem, à distância de uma imagem que percorre minha mente, tridimensionalmente. Corro para mim, bem dentro de tudo o que é profundo, interiormente. Passivamente me afirmo, reafirmo, contradigo, sustento os membros e gesticulo. São tantos, tão diferentes. No fundo, nenhum quer o mesmo que outrora já quis. Passam despreocupados, rotineiros, infames e passageiros (do nada?). E eu, parada no meio de confusões eternas, especada à espera de ninguém, trancada em mim, observo-os, imóvel, eficazmente pensando numa solução para este circular miudinho.

Sugo o espaço, desatino com o tempo, apressando-o, dando-lhe mais da rapidez que o desanima e avoluma sem quebrar. À noite penso. Mais que no escuro da noite, mais que no vento que me congela a face, muito mais que nas estrelas que desaparecem do céu, debato no indistinto clima da minha alma, da minha gente. Agora todos eles são constituintes da mesma luz de um canal de fibra óptica. Dentro é luminoso, cintilante, poderosamente conectado. Mas continuamos presos: encurralados por aquele cabo de um plástico impermeável, duro, negro, impedindo a nossa expansão, a passagem para outras formas de estar, de viver, de habitar e cogitar.

Talvez sejamos isso, talvez nem sequer passemos disso mesmo: uma mistura de luz de oiro que reluz aqui e ali, coberta por um negro céu que nos impede de libertar o verdadeiro esplendor que enriquecerá finalmente a Humanidade: o brilho imutável e transcendente dos nossos olhares. Nós criámos as coisas, adoptámo-las como indispensáveis à vida. Elas comandam-nos e continuamos a ser governados por seres inanimados que deveriam ser colocados em segundo plano! Esquecemos o significado de pessoa.

E assim marchamos sobre esta imitação de claridade que perdura e tende a não cessar, cobertos por escuridão, fingimento, hipocrisia. Largámos o que de mais puro e indistinguível foi colocado neste universo: a Natureza. Fazemos parte dela, harmoniosamente somos criados por ela. É uma divindade, possui a interminável poção da eternidade e apodera-se de toda a gigantesca força do mundo. Bastavam uns milhões de contemplares para romper as correntes e sermos espontâneos, livres, naturais, exactamente como antes, quando nada possuíamos.

Hoje reparei como tu eras belo. Porque não há nada mais belo que o brilho dos nossos olhares.

Fotografia e texto: Bárbara

1 comentário:

Tiago disse...

Adorei! :P

Este texto mostra realmente o quão bem escreves :) E o quão fantástico é o teu mundo :D

És realmente uma pessoa excepcional ;)