Lírico

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Greenland
Toda eu sou alma. Todo eu sou frio, branca como a neve. Toda eu sou sonho, céu, nuvem. Toda eu sou girassol. Toda eu serei tua, se assim o entenderes.

14 de outubro de 2015

Amanhã


"O céu voltou a ser só azul; a chuva, fria e desconfortante. As ruas são agora mais movimentadas, a abarrotar de gente muito semelhante. Os parques de estacionamento estão cheios e não há vestígios de espaço para mais ninguém. A luz elétrica é amarela, doentia. Tenho até um candeeiro aqui, todo ele sonolento e melancólico, pedindo urgentemente por um encosto. As flores murcharam, tal como a salsa e a hortelã, e a vista da minha varanda deixou de ser tão espetacular. Sinto um cheiro intenso no ar: o ar que, biologicamente, necessito de respirar. Não, não cheira a ti. Não tem qualquer parecença com o teu perfume. É toda uma atmosfera envolvente, pesada, monótona. A rotina tomou o seu devido lugar. Como era o teu perfume?

Amanhã o sol vai brilhar com mais força, as nuvens nem se atreverão a invadir o firmamento. Porém, se assim tiver de ser, que chova, que haja vento, que seja a água mais gélida que alguma vez escorreu dos céus. Seja ótimo, seja péssimo, mas que seja. Amanhã, todas as pessoas deixarão de fazer promessas, principalmente aquelas que não poderão, à partida, cumprir. Desistirão da ideia de mentir sobre assuntos óbvios, não pensarão sequer em manifestar algo por impulso e irão medir conscientemente todas as consequências das suas palavras e ações.

Amanhã. Ou depois. Ou talvez uns dias mais tarde.”


Inácia Amarguras
Imagem: The dream, by Philipp Neth

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