Estou
tonto,
Tonto de tanto dormir ou de tanto pensar,
Ou de ambas as
coisas.
O que sei é que estou tonto
E não sei bem se me devo
levantar da cadeira
Ou como me levantar dela.
Fiquemos nisto:
estou tonto.
Afinal
Que vida fiz eu da vida?
Nada.
Tudo
interstícios,
Tudo aproximações,
Tudo função do irregular
e do absurdo,
Tudo nada.
É por isso que estou
tonto...
Agora
Todas as manhãs me levanto
Tonto...
Sim,
verdadeiramente tonto...
Sem saber em mim e meu nome,
Sem saber
onde estou,
Sem saber o que fui,
Sem saber nada.
Mas se
isto é assim, é assim.
Deixo-me estar na cadeira,
Estou
tonto.
Bem, estou tonto.
Fico sentado
E tonto,
Sim,
tonto,
Tonto...
Tonto.
Álvaro
de Campos, heterónimo de Fernando Pessoa
Pintura
de Leonid Afremov
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