Lírico

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Greenland
Toda eu sou alma. Todo eu sou frio, branca como a neve. Toda eu sou sonho, céu, nuvem. Toda eu sou girassol. Toda eu serei tua, se assim o entenderes.

27 de abril de 2009

No fim do mundo…

No fim do meu mundo, tudo o que conheço desaparece. As memórias de um destino que tracei, as ilusões de emoções que sonhei, as pequenas formas de uma escultura que eu própria moldei esvaem-se por um afluente sem foz de tempo e nada. E tudo quanto tenho inscrito na minha falsa memória escorre por horas que jamais alguém conseguirá esgotar, por minutos que nunca ninguém conseguirá evaporar, por segundos que toda a gente irá glorificar até ao infinito dos infinitos. Ilusões, que se tornaram em simples maneiras de fugir à realidade por vezes tão cruel e difícil de aceitar. Sonhos, que já foram mais do que o que são; agora uma pequena tendência os orienta pela pratica e jamais como antes apenas pelo pensamento ignorante de então. Memorias, que ficaram mais do que gravadas neste (in)útil cérebro digno de orgulhos pelo hoje e espero pelo sempre. Tempo, que se foi e se vai e volta às origens moribundas de onde foi permitido arrastar sentimentos e abanar corações.

No fim do meu mundo, não há promessas incompletas. Existem apenas juras de amor que à muito foram esquecidas por um vento mortífero e que os fez descansar em paz. Juras de amor: promessas delicadas e macias, rejuvenescedoras da alma e do coração. Promessas, que quando feitas nunca eram quebradas nem com pingas de água erosivas de pedras duras como diamante. Juras, feitas por apaixonados loucos debruçados de joelhos cumprimentadores de solo. Promessas e juras que só a morte podia quebrar e quebrou. Um leve sopro de ar maldito bastou para que todo aquele amor prometido se desmorona-se e caísse no esquecimento dos vivos e dos mortos. O amor que se sentia, e ternura e amizade desde então não foram os mesmos. O que se observava ou sentia melhor dizendo, eram pequenas sensações dadas pelos sentidos que nos reconhecem como seres sensoriais, únicos e suficientemente inteligentes.

No fim do meu mundo, só há mentira porque a verdade longe lá vai. As bocas coscuvilheiras teimam em lutar contra um silêncio, cura mais que perfeita para este tipo de falares. Verdade que foi e que não é, que à muito lá vai mas que não reconhece o caminho para uma tão desejada chegada. Bocas que falam e teimam em não fechar, em continuar com as mesquinhas mentiras que tanto são agulhas penetradoras de mente humana, assassinas esperando pelo melhor momento para atacar a presa mais fácil. Mentiras, que com o passar do tempo foram idealizadas como padroeiras de bocas de gente ingrata e infeliz com a vida que lhe foi concedida. Um dia, a verdade voltará e os falares alegres e animadores da alma ressuscitarão e com eles trarão a gente boa. Gente, que apenas falará a verdade e só a verdade até que a morte lhes tire o ultimo suspiro.

No fim do meu mundo, não há perfeição; apenas uma imperfeita noção de saber. Saber, que se interioriza tomando posse de alguém, parasitando positivamente ou não quem o transporta. Será que dominamos o saber? Definitivamente não. Não, porque existem perguntas às quais não encontramos respostas. Respostas que teimam em não aparecer; respostas que apenas se sentem sem que nunca sejam comprovadas; respostas desejadas por perguntas sem fim algum. Não sejamos fúteis nem superficiais. Entremos pela raiz das coisas, filosofando. Nem um tudo do planeta que nos prende a um mísero chão sujo e pecador que arde em frente dos nossos olhos e faz flamejar a alma, conseguirá num momento oportuno encontrar uma desejada resposta a uma aleatória pergunta. O que existem são hipotéticas teorias que nem são chamadas como verdadeiras ou falsas. Apenas como validas ou inválidas.

No fim do meu mundo, o céu cai e o telúrico ascende ate ao infinito. As raízes das árvores debruçam-se dançando ao som do vento. O dia e a noite alteram-se como se brincassem a um jogo de sedução perfeita. Tudo contradiz as leis da Física, leis que não podem ser quebradas sem que o caos se instale e tome conta do que lhe rodeia. Mas não. Embora tudo estivesse ao contrário e as leis da Física fossem simplesmente um saber errante, a calma e a paz mantinham-se. Vivíamos agora num grande buraco, numa enorme esfera oca. Por fora, lavas ardentes ferviam e borbulhavam dando aspecto infernal a quem realmente não o possuía. Por dentro, a serenidade reinava, as águas escorriam por curvas telúricas superficiais e por falhas que faziam das gotículas, abióticos com suicídio inadiável.

No fim do meu mundo, eu não sei de ti e tu de mim não sabes. Somos como pessoas com partes trocadas; é como se possuísses a parte lógica e eu te possuísse a emocional, obrigando-me a pensar com o coração e não com a cabeça, a ignorar a parte pura da minha razão e sujeitando-me a intervenções da tua parte sensível. Sou um ser pensante, errante e extremamente lógico. Ou pelo menos era. Agora, dou por mim leve demais, a parte lógica que possuía me foi retirada e trocada por supérfluos sentimentos que me fazem fraca mas única na minha pobre existencialidade. Um ser que pensou e que sente… Sofre por quem não deve e despreza o que lhe é fundamental, comete erros. Já me decepcionei com pessoas que pensei nunca me decepcionar, mas também já decepcionei alguém! Já amei e fui amado, mas também já fui rejeitado, fui amado e não amei... Magoei-me muitas vezes, já chorei a ouvir musica e a ver fotografias, já liguei só para ouvir uma voz, apaixonei-me por um sorriso, já pensei que fosse morrer de tantas saudades, e tive medo de perder alguém especial… Mas ambos somos assim minúsculas marionetas capitaneadas por forças superiores que nos concedem liberdade, direito de escolher entre a virtude e a imperfeição.

Basicamente, no fim do meu mundo não existe absolutamente nada além de muita imaginação que faz com que ideias tão distantes possam chegar tão perto de mim. Imaginação, que faz de mim o que sou, o que instruo e construo, que me possibilita ir a lugares longínquos sem que do sítio me abstraia. Imaginação, que me permite voar e autoriza pessoas como eu a escrever textos resumidos a falar de Homens e do que por estes é possuído. Neste fim do mundo, existem os Homens e o resto das coisas, o Ser Pensante e o que lhe está ao serviço. Estes homens e mulheres de que falo pensam ter poder sobre tudo o que os rodeia apenas pelo simples facto de possuírem uma razão que os orienta e nos distingue da (ir)racionalidade dos animais. Agora pensemos. Existirá algo superior ao Homem? Aqui têm uma das respostas: se não houvesse coisa superior ao Homem, este saberia tudo o que há para saber, alcançava a tão desejada perfeição divina e teria poderes extraordinários. Também podem escolher outra. Dêem asas à vossa imaginação e voai… Eu, fico-me por esta pois é no que acredito que seja verdadeiro.

7 comentários:

The Crow From Your Dreams disse...

o fim do teu mundo é o princípio de outro completamente novo...
Ou será o teu mundo o mundo verdadeiro enquanto nós caminhamos cada qual no seu mundo verdadeiro, limitados numa verdade material e existencial?

dRiKa disse...

LiNdO mEsMo*

José Silva disse...

Gostei, bastante do teu blog, mas tenho uma coisa a recomendar, tenta expressar todo que queres em poucas palavras, dessa forma fazes os textos mais intensos, melhores talvez. ;D

José Silva disse...

Já agora ainda não és um dos meus seguidores :( , eu já sou teu ;D

Ricardo Cunha disse...

já falamos sobre este texto...
está muito bom mesmo..
e acho que tenho que concordar com o zé..é um pouco extenso o texto..
beijo

Sérgio Morais disse...

Olá Bárbara! Parabéns pelo teiu blogue e, principalmente, pelos teus textos que são a exteriorização do teu pensamento, da tua mundividência, do teu sentido crítico! Já sabes: continua a "ousar pensar"!!

APCNM disse...

Escreves muito bem.