Lírico

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Greenland
Toda eu sou alma. Todo eu sou frio, branca como a neve. Toda eu sou sonho, céu, nuvem. Toda eu sou girassol. Toda eu serei tua, se assim o entenderes.

20 de dezembro de 2010

Forest Full of Unicorns *



Estou no quarto fechado. Já algum tempo que assim é. Já perdi a conta às horas que passo fechado neste covil. Por vezes, no meio da escuridão, vejo ideias e palavras e frases e imagens voarem ao sabor de um vento inexistente. Sinto um arrepio correr-me pelo corpo.

E eu sou apenas isso: este arrepio que me percorre a alma. O negro que me envolve faz-me pensar em tudo o que tem acontecido nestes últimos tempos... Chego à conclusão que nada passou de uma simples ilusão onde corria à cata de um sonho que no final se evaporou e me deixou a inspirar o que restava de mim.

Restam agora cinzas do que eu era. Cinzas sem palavras, cinzas sem inspiração. Uma imagem microscópica do que fui outrora. As impurezas que restam sobre o meu rosto são empurradas para longe pelo vento. Ao som de Forest Full Of Unicorns sinto-me ir junto com as cinzas. A minha alma parte. Vejo-me num mundo que me atrevo a equiparar ao d'O Principezinho, onde tudo é sonho, onde tudo é imaginação.

Imaginação que já não possuo, não reina mais em mim. Olho para o que me rodeia e nada se interioriza. Os sons, batidas e ritmos da música que oiço saem correndo, fugindo de mim. Sou um buraco negro: absorvo mas não o transformo em algo mais útil, um pouco menos cinzento e apreciável. O que aconteceu comigo afinal?

Parece que me transformei num pedaço de nódoas no lençol da alma. A água da chuva vem e não me lava. Mas muito de mim vai com ela. Escorrem ideias por mim a baixo numa mistura homogénea com a água. Sinto-me mais transparente que nunca tudo passa através de mim. Tudo passa mas nada fica. Tenho a minha cabeça opaca e não consigo ver para lá das poucas emoções que ainda me percorrem o corpo. Já não consigo escrever, sinto-me ao abandono no meio de um campo de papoilas. Deito-me entre as flores. Olho para o céu e procuro entre as nuvens o que perdi. Procuro entre os cavalos que percorrem o céu a galope a minha imaginação. Espero que ela vá sentada na sela de um desses de Puro Sangue Lusitano e que, cedo, volte para mim.

Ricardo e Bárbara

 *Título de uma música de Cygni Vox

2 comentários:

Helena disse...

Gostei bastante do texto *

Daniela disse...

gosto :) * continuem ...