Lírico

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Greenland
Toda eu sou alma. Todo eu sou frio, branca como a neve. Toda eu sou sonho, céu, nuvem. Toda eu sou girassol. Toda eu serei tua, se assim o entenderes.

6 de janeiro de 2012

Free soul



A poeira não deixava que o Sol penetrasse na densa selva que seria agora o pensamento de alguém que outrora previa uma atmosfera perfeitamente límpida e habitável. Talvez alguma pessoa se prezasse com a terrível maravilhosidade de soprar, colocar todas as interrogações e incertezas na sintonia de um quase, destruir os fantasiamentos do mais próximo de si, trazendo a interrogação antes perdida, desencontrada como quem adormece distraído em ritmos e melodias. Mas um talvez nunca chega, as dúvidas manifestam o seu desejo em não desaparecer por completo e o dia renasce com a promessa de que nada será fácil, nada é percentualmente espontâneo e a maioria das coisas teima em prolongar a chegada do tão esperado fraseamento, a conjugação perfeita de vocábulos, aquela que irá, agora e durante milhentos dias, conceder a vitalidade à mesma existência mundana.

            Não é ofensa exprimir o que a alma tanto teima em querer. O pecado é a simples personificação da mais rebelde das transgressões, um delito cometido no baixinho tocar de um violoncelo de prata, o perfeito crime coberto com o branco quase transparente, bastante translúcido, do fragmento maléfico e substancialmente nocivo de um ser indefeso. O equilíbrio consiste na junção da frágil postura com a robustez do carácter. E quando as palavras não chegam para estabelecer essa tão esperada proporção, a inteligência rodopia à velocidade estonteante de uma acção reflexa, os membros desfalecem declarando derrota, pois o fraco foi simplesmente incapaz de transmitir o que de forte havia para dizer.

            A culpa é demasiado pesada para se entregar a alguém de braços abertos! Ela corrói, perturba, faz desmaiar a minha lucidez. Que culpa? Não existo apenas eu, decerto não existirá apenas um, há muito para além disso, há ordem, há mansidão, há a tranquilidade que se ganha quando o corpo permite à alma o que ela tanto ansiava por cuspir. Mas enquanto os ouvidos não escutarem o harmonioso compasso de vocábulos ligados por o senão de um sempre, a alma não cuspirá, o corpo se negará à existência e o mundo será apenas o que sempre foi até agora!

[Nada acontece por acaso!
Coisa alguma advirá se não metamorfoseares a ilusão!]

Texto e fotografia: Bárbara

2 comentários:

pegueitrinquei disse...

como entendo tão bem as tuas palavras... :) gostei do blog, vou voltar!

pegueitrinquei disse...

como entendo tão bem as tuas palavras. Gostei, hei-de voltar! :)