“A única
coisa que consigo captar, neste momento, é movimento. Luzes apressadas que
atravessam a minha janela à velocidade da luz. A uma velocidade inferior,
percorro toda a minha mente em busca de pensamentos credíveis. Quero acreditar
que, no fundo, as coisas voltam ao normal. Ou, pelo menos, ao que eram antes. As
dificuldades, os pesadelos, a vontade enorme de esconder o que quer que seja
são apenas pequenas transparências que, feliz ou infelizmente, não consigo
remover. Era suposto tudo ficar mais claro, brilhante, simples e cómodo. Ninguém
me preveniu do contrário. Estava a contar com isso. De facto, a escuridão
propaga-se a cada dia que passa. Um eclipse que veio para ficar, assim, imortal
e enfadonho.
O comboio
parou na estação e não partiu. Estagnei, tal qual como ele. O meio de
transporte que usaria para sair daqui abateu o próprio rumo. O que será feito
do meu caminho? Ainda não arranjei escapatória. Movimento-me em círculos. Mas como
qualquer ciclo que se preze, volto ao início, acabada, mais vazia do que quando
principiei. Nem me atrevo a falar de justiça quando habito um mundo governado
por caos e miséria. Este vazio está a dar cabo de mim e vai englobar-me com um
formato permanente, eventualmente. Falha-me a respiração, as crenças, o amor.
Gostava de
poder dizer-te que tenho uma imensa disponibilidade para ir ver as estrelas ou
as ondas do mar, o rio, a correria das gentes, um jardim pacato e minúsculo. É escusado.
Não há nenhum sítio para onde fugir, nada que me possa resguardar a mim, a ti,
a ambos. Parei de raciocinar. Só não consigo encontrar um ponto final para este
pranto miudinho. Dói. A solidão, o vazio, a indiferença e ignorância, até o
facto de não existirem palavras, nem descrição: dói. Dá vontade de fechar os
olhos, permitir que o rumo natural das coisas suceda, por fim. De nada adianta contradizer
o que não pode ser contrariado.”
Let it
go. Do whatever just to stay alive.
Inácia Amarguras
1 comentário:
Tenho um novo link http://mudodeumaprincesa.blogspot.pt/
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