Lírico

A minha foto
Greenland
Toda eu sou alma. Todo eu sou frio, branca como a neve. Toda eu sou sonho, céu, nuvem. Toda eu sou girassol. Toda eu serei tua, se assim o entenderes.

2 de julho de 2010

Surpreendentemente inimaginável...


A vida é realmente surpreendente. Tudo aquilo que parece inexplicavelmente inacreditável acontece e desenrola-se bem no interior das gentes, desenvolvendo-se, crescendo, fazendo de nós seres sentimentais vulgares. Inimaginável!

Por vezes, a recepção de um não é o começo para uma nova etapa. As indiferenças rapidamente absorvem a positividade e nos tornam imunes a novos encontros com esta agora já não precoce experiência. O céu é coberto por aquelas bem conhecidas nuvens que me levam a luz, a inspiração, a alegria e alguma razão. Caminho sobre a chuva que teima em não parar e deparo-me com um desconhecido: passou, olhou, prosseguiu caminho… Tu!

Aquela aparição me intrigou. Nos breves instantes seguintes, a indecisão se apoderou de mim: avanço nesta longa estrada ou quebro o tempo, volto e corro atrás do que me embaraça?

Decidi e tomarei as consequências desta deliberação. E sobre aquela água que desaguava do céu, corri à cata de um sonho, em busca de ti! À medida que acrescentava nesta minha teimosia a colossal querença de descortinar a imensa razão da tua chegada, senti finalmente que me encontrava a causar o que era correcto.

Procurei o teu nome num complexo chamamento ao qual não obtive imediatamente resposta. Pela derradeira vez tive forças para pronunciar tua denominação que me perfurava a alma e me desinibia o coração. E lá estavas tu! Olhavas-me concentrado a fim de absorver todos os detalhes do meu rosto e sensivelmente respiravas. E tu, descuidado e carregado de solidão, vagueavas fugindo de mim, atrasando o tão inesperado começo.

Finalmente vieste até mim. Pegaste em minha mão e guiaste-me ao guardião do infinito. Uma grande entrada surgiu sobre nós e eu, aterrorizada, contemplei aquela arrepiante beleza espectral. Olhaste-me e delicadamente descortinaste o meu rosto. Sussurraste umas harmoniosas palavras ao meu ouvido: pareceram-me perfeitas. Não as recordo. Escaparam-me entre os dedos, fugiram e dirigiram-se para o portão do interminável.

Nunca mais vou esquecer a cor dos teus olhos quando fixamente me observavas nem os teus débeis gestos perante mim. Nunca soube quem foste, ainda desconheço quem verdadeiramente és, quem serás? A única certeza que possuo é a de que não desaparecerás das minhas memórias, estejas onde estiveres, sejas lá tu quem fores. Sei onde te encontrar: um dia chegarei ao infinito e aí procurar-te-ei e desvendarei por fim a tua sublime identidade.

Bárbara Patrício

Selo (':

A Mariia ofereceu' me este selo e desde já lhe agradeço (:



1. Publicar a imagem do selo e dizer quem o passou

2. Responder à pergunta: O que te aquece o coração?

Não é fácil aquecer um coração. Mas basta-me a palavra certa no momento certo, um abraço forte e apertado quando é realmente necessário, um olhar daqueles que conquistam uma alma de uma daquelas pessoas que eu mais amo e um dia cheio de sol para que o meu coração fique um pouco menos vazio e com mais vontade de continuar a bater!

3. Passar o selo a 10 blogues









19 de junho de 2010

Perspectivas


Um belo par de pensamentos cruzados me faz levitar e reflectir acerca do que quero para mim num futuro próximo. Sim! Eu gosto de falar de tempos vindouros, daqueles que ainda vêm a caminho da rota da felicidade para se cruzar comigo na sexagésima avenida de um sentimento só meu, daqueles que porventura possam tornar-se num Everest de gélidos e preconceituosos planos ou num Sarah de abrasadoras e aconchegantes premonições.

Os meus olhos vêm-te vezes sem conta até o Sol deixar de te contornar os únicos traços da fronte; mesmo sem a tua comparência, estás presente! O céu e as nuvens disputam o melhor lugar: e envolvem-se num demorado aceno, naquele permutar de paralelas voltas e reviravoltas, numa viciante agitação entrelaçada entre ambos.

E tocam-se uma vez, e outra, e outra… o jogo não descontinua e os vencedores entregam-se aos vencidos com um doce movimento requintado pelo brilho avermelhadamente intenso do pintor universal. Tantos pensamentos, tantas mutações na alma amenizada pelo açucarado paladar da curiosidade excessiva… não quero inverter!

O tempo corre num vagaroso compasso de encontros e despedidas com a vida com que demasiadamente sonhamos. Os sonhos são apenas perspectivas encantadas da realidade que por vezes nos custa a aceitar: é apenas uma maneira de quebrarmos as barreiras da limitada existência e do curto espaço que possuímos a fim de conquistar aquilo que nunca poderemos alcançar. Somente a veracidade dos factos nos oferece a tão desejada consistência no olhar.

O livre pensamento cruzado baseia-se neste conjugar de emoções que nos confundem e nos levam a indesejadas vitórias travadas connosco próprios. E é nestas ocasiões que as certezas que nem sempre gostaria de desfrutar acerca da minha verdade se defrontam comigo na diminuta e intemporal caminhada que insisto em percorrer.

Tudo me foge, tudo se afasta de mim… a arrogância não é motivo de discórdia entre nós. A ternura contida nas minhas palavras trazem-me mais do que aquilo que pensava que acarretassem. Por fim, pactuo comigo mesma: de nada me vale diminuir o olhar e interromper a competição até porque as insistências conferem-me um motivo para cessar aquilo que me é completamente inútil.

Tudo aflui, tudo inevitavelmente reaparece… é uma das leis naturais da existência humana. O que neste momento me escapa entre os dedos, futuramente se infiltrará no correcto lugar onde permanentemente deveria residir. A totalidade baseia-se na conjugação de milésimas insignificâncias, possibilitando a plenitude de muitos e a inutilidade de tantos outros.

Bárbara Patrício

3 de junho de 2010

Genuíno?



Gostaria de atirar á brisa leves pensamentos, pequenos bocados de história, simples partes que já me remataram por completo e que agora são apenas entendimentos mas presumo que esteja demasiado vento para os lançar. Queria olhar o céu e demarcar o meu território lunar, conjugar conjuntos de estrelas, observar macroscopicamente os planetas tão misteriosos mas existem demasiadas nuvens a cobrir-me o olhar. Pensei em banhar-me de sol para que este me iluminasse a alma, o corpo, a própria mente, mas a chuva apodera-se do tempo não deixando dúvidas.
Mas, mas, mas… Há algo que não possua um “mas” medonho por detrás? Há coisas que simplesmente não têm explicação?

Quanto à primeira pergunta respondo indiferentemente. Sinceramente, não consigo recordar-me de algo tão divino e espectral; quanto à segunda, afirmamente returco. Há factos que, por incrível que pareça, não obtêm contestação. Tudo acontece, tudo se dá, tudo se vai e apenas alguns permanecem. A culpa recai sobre aqueles que nem sempre a detêm: faz parte da justiça até deste nosso território. Logo, poderá completar também parte de nós. E infelizmente completa.

Nada do que era sincero e genuíno existe já. As imitações estão a tornar-se capazes de mais para as originais lhe fazerem frente. Este parecer com que nos preocupamos tanto não vale rigorosamente nada. Senão pensemos: de que nos vale parecer ser uma pessoa que não somos? Para muita gente, esta pergunta nem sequer possui um motivo para discussão.

O fustigar da chuva trazida pelo forte vento na janela perturbam-me. Ao menos isto sim, é genuíno. A Natureza é tudo, a Natureza dá tudo! Esta universalidade baseia-se na elementar dicotomia entre amor e ódio, numa bipolaridade fenomenal e catastrófica. Podemos facialmente equiparar-nos a ela. Com uma diferença: nós podemos escolher apenas uma, temos a capacidade de rejeitar uma outra.

E eu rejeitei aquela que nunca habitou em meus actos, em minhas pequenas acções ou gesticulados termos. Ódio gera ódio! É neste ciclo vicioso que a humanidade vai caindo sem se dar conta que se desprotege, se aniquila a cada termo, a cada ultraje vindo do interior. À semelhança deste, outro sentimento edifica estes períodos viciosos que articulo e será apenas este que nos conservará e acompanhará; só ele está habilitado a fazer-nos sorrir, continuar a lutar por nós, por todos os outros!

O amor!

É capaz de regenerar algo partido em milhentos bocados; realça a alma adormecida após um sono de profunda controvérsia; constrói as mais gigantescas muralhas de protecção, as mais belas citações e pensamentos difundidos num só ser, num simples olhar perdido de um mundo realmente profano.

Isto sim, é verdadeiramente genuíno, não havendo espaço para imitações.

Bárbara Patrício

8 de maio de 2010

Ilusória Perfeição

És só mais uma fonte de inspiração furada. Não és nada, nem ninguém. De tão vasto e inverosímil que te tornaste agora nem sei para onde ir, nem sei a localização das palavras. O quarto permanece escuro. O livro bordado com palavras subtis forma uma muralha verdejante de um déjà vu infértil e perdido no tempo.

Vi-te desaparecer por entre as minhas mãos e não mais pude contemplar o escuro dos teus olhos, tocar a tua macia face e abraçar-te. Tudo era bom, perfeito, um lindo dia com céu azul. E um dia, todas as palavras se foram juntamente contigo. Só o vazio preencheu o espaço que antes ocupavas; sem culpas, sem remorsos, sem raiva nem previsões do futuro.

O livro estava a meio. No meio aberto ele esperava um preenchimento de algo fantástico e único. As folhas brancas levantavam com o vento e melodizavam uma harmonia quase divina que quase escreviam sozinhas o grande conto perdido de uma inspiração de olhos negros e fugitiva. Inspiração que agora perdurava por entre ideias mortas. A caneta jazia sobre o papel. Um corpo imóvel agora sem afazeres sem compromissos.

Não quero magicar sobre o tempo que se perdeu a escrevinhar por entre linhas tortas o exemplar ser que parecias na verdade ser. O livro continua amplo e sem vista a tornar-se finito. Há memórias que nem o tempo destrói; há vidas que não conseguem ser completamente retiradas do nosso pensamento. Talvez isso seja apenas uma longínqua recordação remota sem razão de continuar a ser vivida ou possivelmente nenhum de nós esteja ainda preparado para o grande final, onde mais ninguém se verá reflectido noutra grande pessoa.

Desoladas e sem valor são as minhas palavras neste momento. Já nem para falar encontro as palavras certas. Pareço um papagaio, apenas me limito a imitar e palrar. Tudo começou a ser diluído pela chuva. O teu grande sentimento era falso. Podia ter acreditado em muitas das coisas que me disseste. Tudo falsidades! Tu não és como eu desenhei. Tu nunca serás como eu desenhei. As tuas palavras eram sujas e rancorosas. Guiar-me-ei pelas minhas ideias por mais confusas que sejam. Mas não volto a usar palavras de pedra e dolorosas como as que tu me dizias.

Disse-te as mais bonitas palavras que alguma vez alguém ouviu da minha boca, desejei-te as melhores sensações do mundo, senti por ti o que nunca tinha sentido por ninguém. Destruis-te sem fundamento aquilo que um dia me pediste para construir a teu lado. Nada do que me dizes agora tem aquele significado especial que antes possuía intensamente. Mas os teus olhos ainda não são completamente estranhos aos meus. Reconheço-os perfeitamente: o brilho, a cor, a luminosidade…

O teu olhar penetrava-me na alma. Por momentos sentia-me leve. Levantava voo. Íamos a sítios que ninguém imagina. Em poucos segundo eu vivia a melhor aventura da minha vida. Agora não passas de um capítulo encerrado deste livro. Fechado a sete chaves, com sete selos de pedra enterrado na encruzilhada que é a minha vida.

De:
* Bárbara Patrício
* Ricardo Cunha

1 de abril de 2010

Morfologia existencial


Vejo o chão a sumir-me dos pés, vejo cada pedaço a desvanecer tal e qual como eu. Caio num buraco fundo, profundo, sem eira nem beira. O tempo passa e o fim parece nunca mais se abeirar. Fecho os olhos e encerro as visões a míseros passados, a tristes desaparições.

Tento tocar em algum objecto que me pareça familiar, algo onde me possa fixar e amortecer a derradeira queda. Nada! O que defronto é nada: um nada vazio, indistinto e gélido. Tudo cai simultaneamente com aquela criatura que parece não ter já uma concepção de altitude, de duração, de extensão.

Embato num solo que parece não querer me deixar poisar. Saltito e percorro o mesmo labirinto desde o chão até ali e dali até ao chão. Aquilo me envolve em mais um pouco de desespero e me embala num sono profundo, num doce jogo de sentimentos.

Adormeço. Acordo. Noto que estou finalmente deitada no chão, naquele mesmo chão que parecia não me desejar ali. Levanto-me. Vejo uma minúscula porta, bem lá no fundo, bem iluminada, repleta de luzinhas cintilantes que punham meus olhos a brilhar. Corri, mais e mais e melhor. A porta parecia nunca mais advir: eu jamais me reconciliaria com aquele bendito portal. Circulei, caminhei, consumi todas as forças e só descontinuei quando decaí novamente no chão, de rastos, sem eira nem beira.

Idealizei que me encontrava no firmamento e minhas mãos achavam-se limpas, lisonjeadas e perfeitas. Não tinham ferimentos, nem arranhões daquele desastroso embate. Aquilo que me desprotegera, afinal, também sabia amparar-me. A minha figura… nunca antes tinha estado tão amena, com uma expressão tão calma e ternurenta. Serena, desabrochei o olhar. Não existia céu, não havia perfeição: havia um amontoado de triste sofrimento. Olhei para o lado, investiguei todos os contornos espaciais. Nem podia acreditar: a porta residia mesmo ali. Não era necessário correr, percorrer grandes distâncias. Ela achou-se sempre ali, permanentemente próxima de mim.

Entrei, regressei a casa. Estava novamente livre de perigo, acordada de um sonho dentro de uma ilusão. A vida é isto: uma diminuta visão dentro de outra qualquer ficção; é o cair num buraco sem fundo e seguidamente prosseguir, lutar até não poder mais a fim de desaparecer daquele estado de espírito tão inóspito. Pelo meio, temos sempre outras lembranças, boas oportunidades e brandas imagens passageiras. Temos pessoas, temos reminiscências, temos universos, temos existências!

E ela é consumada disto: um entrelaçado enigma com assento no simples dilema de abalar ou estacar, apressar ou afastar-se, perder ou conquistar!

6 de fevereiro de 2010

Lar de papel


Cada vez que aqui me encontro, uma imensidao de tudo me transborda; talvez porque contenha um pouco de tudo neste já muito de nada. Olho as vivas cores de um espectro semi-cerrado, sinto o suave aroma a terra molhada e escuto o constante chilrear dos voadores. Um fim de tarde mas nunca um fim de vida…

Sento-me e uma luz passageira me aconchega, aquecendo-me intensamente. Ergo o meu olhar, contemplo o céu azul-bebé sorrindo para mim, algodão doce com sabor a chantili e minúsculas criaturas pairando. Aqui encontro um refúgio. Melhor dizendo: aqui sinto-me realmente em casa, envolta num verdadeiro conceito de lar. Na verdade possuo demasiados lares: minhas casas, memórias, passados e isto. Isto a que chamo fuga, casa das horas vagas.

Penso e repenso. Dou um rumo a minha inteligência, largas à minha imaginaçao e perco o rumo que parece não andar nem desandar. Muitos perderam a esperança em eu algum dia ser alguém; outros me prometem algo que nunca cumprirão mas com a mesma confiança no falar como se tivessem as certezas que eu não tenho do amanhã; ainda há aqueles cujos rostos alegres me difundem algum deste sentimento e me deixam totalmente viva.

Minha alma não está cheia e meu pensar vazio continuará, dito isto na boca de muitos até parace mentira. Se o pensam, estão triangularmente enganados. Entre este meu ser e o que o envolve existe apenas uma rotura: diferenças de concentração abismais.

Estarei eu à espera que alguém me difunda ou terei eu de tornar a difusão possível em alguém? Será que já difundi tudo o que tinha para o exterior e fiquei plasmolizada ou é o lado de fora que não está preparado para me transbordar? Seja o que for, está na altura de retribuir, me preencherem o espaço que resta, se ainda restar. Não que reste muito já.

Vejo este local igualmente vazio, tanto quanto eu. Minhas lanças se baixam e mergulho em escuridão, num sono profundo. Como que por magia, isto se representa em minha mente e imagino neste lugar uma família, coisa que já á muito passou. Crianças brincando nos rochedos, fazendo papas de ervas daninhas, colocando um majestoso ramo de flores campestres na jarra da mesa de jantar para surprender a mãe.

O homem da casa esforça-se para que consiga dar à sua família tudo o que ela carece. Constrói belas paredes de cimento e blocos, aperfeiçoa as linhas e dá uns últimos retoques no que será o seu completo lar. A mulher cozinha à luz da lareira pensando em saciar as bocas famintas do marido cansado carregando um dia inteiro de trabalho árduo e duas crianças já fartas de brincar, rir e imaginar.

A noite cai e só me apercebo dos mimos, dos aconchegos. Como dever de progenitora, reconforta suas crias em suas camas e lhes narra uma daquelas eternas histórias de embalar. Por fim, as pequenas adormecem e concedem à noite mais duas mentes férteis, mais duas lindas visões de um sonho em comum. A mãe se deita ao lado do pai e ambos sorriem apaixonados. Um beijo de boa noite se solta e um abraço se dá. Adormecem juntos, unidos para sempre por um amor que nunca mais acabará, por algo tão imaginário quanto eu.

Tempos que passaram cheios de vida… agora o ser sumiu-lhe e o que superficialmente se vê é um amontoado de madeira resguardando memórias. Sei que elas não mais sairão dali, daquele maravilhoso lugar. Sinto-me a viver aquelas vidas, ponho-me no lugar de cada um deles e penso que mesmo quando a vida lhes reservava o pior dos desfechos, eles continuavam unidos. Era isso que os fazia fortes, era aquele lar que os tornava uma família e aquele amor que os fazia transbordar na alegria e nos sorrisos.

Daqui me retiro um pouco mais cheia, de respirações, de conversações e de emoções. Entrei de olhar derrotado, saio com um triunfo cintilante, confiante em mim, mas ainda com muito pouco por conquistar, grandiosamente desconquistada. Uma certeza me preenche, me transborda e me cativa a seguir caminho: sei que não estou sozinha, continuas comigo.

5 de dezembro de 2009

Poeiras do não ser



O vento trouxe-me para ti como leva uma areia ao mar. Não sei que diga, que faça. Gesticulo pequenos gestos quedos e mudos. Não sei a resposta, não: eu não reconheço a chuva. A areia se envolve no mar e se torna parte de seu interior, parte da vida de quem tão grande era, tão majestoso é. Que significam esses grandes olhos cor-das-trevas que me enfeitiçam e me levam à tua batalha?
Queria certificar-me do que aqui dentro se remexia, se criara a partir do tempo. Presa debaixo de uma rocha, perdida na friorenta camada de pedregulhos dispersos ao longo de infinitos pares de começos. Aí, teus espelhos reflectiram toda a escuridão.

Agora percebo a cor de teus olhos: possuem as trevas que absorveste do lugar onde me encontrava. Tudo se torna demasiado claro. Já não sei dizer que não sei e nem sei se sei se te dissera mas direi o que souber e daí só quero que me digas o que te vai na alma, no pensamento em questão.

Vou parar de dizer não: enviar as sombras para longe, bem para dentro dos teus olhos. Cada vez que o teu olhar me alcança sou purificada, elevada a rainha, tua rainha. O vento levará o tempo e enquanto houver movimento haverá circunstância. Segue a estrela polar, rema para norte, no cimo da montanha me encontrarás de alma vazia, já sem inspiração ou pensamento algum.

Preencher-me-ás. Te ficarei agradecida, te reconhecerei o privilégio e serás honrado e para sempre bendito. Viva o tempo que me levou à escuridão; viva o sol que me trouxe de novo a calmaria e o cheiro a água salgada. Viva eu, viva tu, vivamos juntos. Não para que a morte chegue: para que a vida não passe facilmente despercebida entre nossas memórias.

Se um dia chamares por mim e eu não tiver minhas mãos envoltas nas tuas, olhas as estrelas, entrelaça-as e escreve o meu nome no céu. Eu especularei e irei a correr para teus braços. Gostava que fossemos um, apenas um e só um ser. Assim sabia que nunca me irias perder. Assim sabia que nunca te iria perder. Sei que terei sempre o teu pensamento, o teu refúgio, o teu amor a meu lado.

Não voltaríamos a sucumbir. Seria difícil desmoronar-nos. Estaremos juntos, estaremos fortes, estarei impune ao mundo das trevas que absorveste com esse teu olhar radiante.

Só te peço: Leva-me para longe de mim, para bem perto de ti!

7 de novembro de 2009

Arco-íris


De tudo o que disse, nada foi em vão. De tudo o que sonhei? Repito: nada foi em vão. Nada vai e vem sem aviso prévio. Tudo tem uma razão de ser, uma simples abreviatura designada por sim e retorquida por uns quantos “nãos”. A vida é feita disto; esperas e desesperanças trancadas em mentes possuídas pelo pó dos maquiavélicos fantasmas que nos consomem, que nós próprios criamos e deixamos dilatar.
Não esperes, não desesperes! Vem para junto de mim afastar estas labaredas que me transformam no fogo reflectido em teus olhos. Vem! Vem cruzar o meu caminho com o teu e atravessar o rio de tempo que me atravessa.

O que digo pouco me importa, pouco te deve importar. Mais do que as palavras existem silêncios; mais do que rimas, mais do que insignificantes rumores vive em mim um entrave constante em te ter e te perder. O medo consome os fracos, a coragem apenas cabe nos mais fortes! As ilusões diluem-me os pensamentos, prendem-me o simples malabarismo de sentir, de fantasiar os olhares e as brincadeiras infantis, os risos e as palavras doces ao ouvido.

Quero voar, correr e não mais parar! Anseio a vida e ignoro os dias que somam à minha morte. Olho o arco-íris e esse espectro esperançoso difunde o que mais preciso de sentir, o que de mais belo poderia encontrar. Encontrei-te! És o arco-íris e em cada cor representas mais que uma marca, mais que uma síntese das memórias que em ti e só em ti serão gravadas. O fim está longe de começar; o inicio, esse, está muito longe de chegar ao fim.

Desenho: Alexandra Ramos
Texto: Bárbara Patrício

19 de setembro de 2009

Rodopiantes contrastes lunares



O escuro brilha. Cintilante conjunto de cinzentos baralhados num só contraste, numa só estrela. Imensidão de nada, vazio interminável. Assim, se descreve Clara. Um nome tão luminoso se apaixonou por tão dissemelhante alma. Toda ela era uma escala de brancos e pretos. Para além do nome, sua pele se assemelhava a um árido e desconhecido ponto do universo. Já seu cabelo era negro como carvão: o sol o acariciava, ela o eclipsava.

A alma era feita de pedacinhos agrafados, colados, rasgados e vagabundos ao vento, duas metades numa só. Se nunca nos tivéssemos movido até à Lua poderíamos estuda-la aqui mesmo, em pleno planeta Terra! De um lado, a luz não chegava sequer para aquecer um terço de si; não daria nem para descongelar a meia tonelada de sólido que lhe mataria a sede de vida. Existia de tudo. Pelo menos de tudo o que de pior no mundo desembarcou; aliás, na Lua aterrou.

Na outra parte de si, o caso mudava de figura. Naquele lugar, ela era a mais clara de todas as Claras. A luz solar era toda ancorada naquele lugar que a aquecia. Essa alma lunar não só rodopiava em torno de si mesma como em volta de seu coração. Dependentemente da parte que para ele estivesse virada, assim seria o seu humor, sua maneira especial de sorrir.

Nunca o organismo de alguém fora tão espacial, tão marciano ao ponto de desconhecer seu próprio conteúdo original. Refiro-me a memórias. Em vez de as guardar, expulsava-as, mandava-as embora e proibia-as de entrar. Já nem falo de sentimentos porque esses aí eram escolhidos a dedo depois de vistas as unhas em revistas de moda. Os contrastes se proporcionavam e o equilíbrio se dava: em vez de duas cores distintas porque não misturá-las, torná-las numa só?

Seria o solucionar de uma vida! Foram embora os claros e escuros; tudo se juntou e se acinzentou. O problema da anormalidade teria assim um fim previsto para breve. Mas, embora cinzenta, não se deixou de ver a preto e branco, igualzinha a uma sala de cinema dos anos 80...

Seu blog é viciante!



Agradeço à Erica, do *Luna*, e ao Prof. Sérgio, do Historico-Filosoficas, a atribuição deste prémio ao Feelings.
Agora, devo, assumir três compromissos, para além de publicitar o prémio “Há blogues viciantes” e endereçá-lo a dez outros blogs.

1. Tentarei ser mais arrumadinha, ordenando melhor as respostas ao expediente e ao atempado arquivamento, no escritório, e com coisas pessoais em casa;

2. Tentarei ouvir mais e não insistir na minha opinião mais que o estritamente necessário evitando conflitos espúrios;

3. Tentarei não me importar com os feitos e defeitos do meu Porto;

Confessados publicamente os pecados, só falta mesmo enunciar os blogs viciantes. Entre tantos merecedores:

4 de setembro de 2009

Seu blog é mágico !



A música mágica: Metallica - Nothing Else Matters

O filme mágico: Idade do Gelo

A viagem mágica: conduzir uma nuvem e percorrer os céus

A maquilhagem mágica: a simplicidade


5 blogs mágicos:

- Beatriz Araújo

- Cátia Barbosa

- Zézinho

- Michelle

- Emma

Obrigado Raquel e Érica pelo miminho :D

1 de setembro de 2009

Vida consumida por ódio, levada pelo demónio!

"Para ser sincera, não tenho memórias. Pelo menos de uma vida. Fui deixada com o mundo no limiar da infância. Não que a culpa fosse deles. Um qualquer embriagado infringiu todas as regras de trânsito. Muito para além dessas simples regras mundanas, cometeu o pior pecado, o maior acto de ignorância! Num segundo a vida lhes fluiu do corpo, um embate os projectou para fora, bem longe dali. Sofri mas ainda sofro!
Era pequena e não entendia muito do que entendo hoje. Posso não ser grande mas sou suficientemente consciente do meu ódio, do desejo que tenho em encontrar por fim esse homem. Esse dia iria chegar… por fim, finalmente chegou. Pude contemplar o rosto descaído daquele inconsciente assombrado por fantasmas do passado, por erros irremediáveis, por um peso na consciência que o acompanhará até ao seu fim! Me implorava por vida, me questionava a identidade, o porquê…
Queria dar-lhe de mão beijada o destino que concedeu a meus progenitores e toda a dor que por mim foi sentida. Fazia-lhe pontaria ao orgão digestivo que jamais iria digerir. Não o mataria de uma vez mas aos poucos… o ácido lhe iria corroer a carne, agonizando-o! Não chamaria isto de vingança, talvez ajuste de contas.
Sentei e observei aquele triste fim. Sentia-me concretizada! Até que a morte lhe transpareceu pelos olhos… olhei-o uma última vez e aí a felicidade escapou-se assim como a vida.
Cheguei ao limite da compreensão, abri meu ser e expandi o olhar: naquele momento foi-me concedido o vislumbrar mais claro de todos. Uma vida não traria outra quanto mais duas! O rio era testemunha de meu acto cruel, a água corria e levava consigo o sangue. Talvez transportasse também meu pecado. A ponte me convidava a subir, o líquido me iludia a mergulhar. Olhei derradeiramente o céu e pedi desculpa aos anjos: perdão pela raiva, pelos actos, pela idiotice… e mergulhei. Morri exactamente como meus pais: um violento embate nos esmagou a vida, nos trancou o coração… "
Açucena escreveu a sua própria morte mesmo quando a vida ainda lhe corria nas veias. Seria por muito pouco tempo. Escreveu, desapareceu e concretizou o fim da escrita, da sua própria história!

27 de agosto de 2009

Esconde o sono, realiza um sonho!

Olha-me nos olhos, digitaliza-me a mente. Agarra minhas mãos e sente um leve arrepio, um breve desvanecer. Leva-me contigo para longe, ainda hoje. Encurtei as palavras para que mais fáceis se tornassem de ler. Assimilei passados afim de obter (re) começos. Pensei, dormitei, sorri e chorei… Uma ideia surgiu, um sentimento cedeu finalmente: queria tréguas!
Pedi-te o mundo para que o pudesse virar do avesso. Questionei-te sobre a luminosidade lunar mas a Lua supostamente não reflectia, nem interessava. Teria de esperar, era ainda bem novinha e cheia demoraria a ficar. É um ciclo vicioso este de morrer nascendo, brilhando sumindo!
Realmente falei-te dos anéis de Saturno, na esperança que coubessem num dedo. Não apenas calaste, viraste costas! As palavras não te flúem. Odeia-las por mostrarem o que não queres ver, o que irreversivelmente se perderá!
Haverá fantasmas em Mercúrio? Talvez carbonizados demónios. Pensando bem, só sentes no Ártico: onde a dor congela e entra em esquecimento. Não te recordas é que congelada, ela permanece eterna. Os calorosos diabretes te perseguem fazendo acontecer uma estrondosa dança de descongelamento! Amenizar tem os seus perigos mas as vantagens compensam. Agora que me debruço no fogo reparo que raramente deixaste de ser um bloco de gelo.
Frio, sólido, aprisionado, sem palavras… fecho os olhos na esperança de saber a verdade, a sonhar com o dia em que deixarás de ser um simples vento gelado que me aquece e arrefece. Gotejas agora, derretes depois. Escondes-te no infinito do oceano para que não mais te possas fazer sentir. Grita desejos, afirma teus quereres! És alguém, demonstra-o! Liberta-te das redes que prendem tua alma às profundezas daquele inferno! Sobe a montanha, respira o ar rarefeito e sente o bater exagerado de uma bomba que tende a não parar: acima de tudo, sente!